A campanha que visa acabar com a violência que assombra milhares de crianças
O Promotor de Justiça José Carlos trabalha incansavelmente para ajudar vítimas de violência sexual e evitar que esse tipo de crime volte a acontecer
Nos primeiros quatro meses de 2021, 2431 pessoas menores de idade sofreram abuso sexual em Minas Gerais, de acordo a Polícia Civil (PC). Esses dados mostram que a cada dia, há 20 crianças ou adolescentes passando por algum tipo de violência. Para evitar que esses crimes voltem a acontecer, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) realiza a campanha “Todos Contra a Pedofilia”.
Quem está à frente do projeto que visa combater a violência sexual no estado é o Promotor de Justiça Carlos José Fortes, conhecido como Casé. O interesse de se juntar a causa começou em 2007, em Divinópolis-MG. “Assisti a uma palestra sobre Adoção, proferida pelo Senador Magno Malta. Sugeri a ele algumas modificações na parte do ECA que trata do assunto. O Senador me disse que eu deveria então escrever um Projeto de Lei com minhas sugestões e lhe enviar. Recebi, alguns meses depois, o convite para comparecer à uma audiência pública e o projeto foi proposto pelo Senador”, contou.
Após a audiência, o Senador compartilhou com Casé que pretendia instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar crimes ligados à pedofilia no Brasil. “Magno Malta me perguntou se eu tinha algum trabalho sobre o assunto. Eu já conhecia diversos fatos relativos a abuso e exploração sexual, mas confesso que não tinha a percepção exata da grandeza daquele mal. Mas, o que sabia já me deixava muito indignado e propenso a agir com mais empenho ainda contra aqueles crimes e a favor da criança”, disse o Promotor, que se engajou na causa e durante a CPI foi conhecendo ainda mais a triste realidade de muitas crianças e adolescentes.
Casé conseguiu a autorização para conciliar o trabalho como Promotor com a “CPI da Pedofilia”, e a partir disso o trabalho que ele realiza até hoje começou e já ajuda milhares de crianças e adolescentes. “Durante os anos da CPI, a cada dia, a realidade se impôs e trouxe consigo tristeza e indignação, mas também trouxe mais vontade ainda de encontrar e efetivar os meios de defesa da criança e do adolescente, contra esse mal que nos assola há tempos. Ali, ao pisar no aeroporto de Brasília-DF, se iniciou para mim o caminho que trilho até hoje, no sentido de prevenir e enfrentar os crimes ligados à pedofilia. No decorrer da CPI, surgiu o movimento Todos Contra a Pedofilia”.
O Promotor confessa que trabalhar e lidar com tantas histórias tristes de abusos não é fácil. A comoção com alguns casos já quase o fez abandonar a missão, mas ele afirma que logo o sentimento de indignação falava mais alto e o impulsionava a dar continuidade ao trabalho. “É um grande balsamo poder resgatá-las dessa situação e ajudar na recuperação das vítimas diretas e de suas famílias. Também é alentador o sentimento de Justiça que vem da punição dos criminosos, originário de um trabalho árduo e difícil, mas que representa Justiça e Respeito às vítimas e à toda sociedade”.
Por meio do projeto Todos Contra a Pedofilia, Carlos e a equipe trabalham para prevenir casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, além de sensibilizar, conscientizar e informar a população sobre a pedofilia. Ao lado disso, ele exerce também o trabalho como Promotor de Justiça Curador da Infância e da Juventude, na Comarca de Divinópolis, promovendo ações judiciais e extrajudiciais para a garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.
“O criminoso pedófilo é, intrinsecamente, um covarde. Por isso mesmo prefere ter como vítimas pessoas inexperientes e mais fracas. É preciso que, a todo momento e de todas as formas, expressemos nossa vigilância e nossa conscientização na defesa dos menores, assim podemos inibir a ação”, explica Carlos José.
De acordo com o Promotor, as estatísticas não mostram a realidade dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, por isso o trabalho que a campanha tem realizado é tão importante. “Os dados não traduzem os verdadeiros números, tanto por divergência nos conceitos, quanto por causa da grande quantidade de casos não denunciados”. Para dar apoio ao projeto, Casé já até escreveu uma obra com compilado de informações que ele obteve durante todos esses anos na luta contra a pedofilia. “O principal objetivo do livro é o mesmo do movimento: prevenção aos crimes de pedofilia através da sensibilização, conscientização e informação”.
Com apoio da população e da Justiça, a luta contra a pedofilia chegará ao fim com casos zerados de violência infantil. “Acredito no dia em que os direitos da criança e do adolescente serão muito mais que belas palavras no papel, mas realidade vivida por todos. Depende de nós”, afirma Casé. O Promotor diz que, mesmo após tantos anos trabalhando para isso, continua incomodado e não satisfeito, mas aguarda por um futuro melhor.