A sobrecarga do cuidado
Frequentemente, mulheres enfrentam duplas jornadas de trabalho que resultam em sobrecarga, adoecimento e limitação do seu desenvolvimento em outras áreas importantes, como: a vida acadêmica, profissional e, até mesmo, a vida social. Esses casos ainda podem ser mais graves quando envolve a maternidade porque a mãe se vê na obrigação de parar de trabalhar a fim de ter mais tempo e disposição para a família e os filhos. E o motivo? A divisão desigual das tarefas e cuidados.
A maternidade atípica é um termo utilizado para mães que cuidam de crianças com quaisquer tipos de deficiências. Neste caso, na maioria das vezes, a mãe precisa atuar de maneira mais ativa no desenvolvimento dos filhos, tendo que lidar com as emoções, os sentimentos, as angústias e o trabalho relacionado ao cuidado excessivo.
Além de toda carga da maternidade, as mães atípicas ainda precisam lidar com inúmeras dificuldades ao longo dessa jornada, como: grandes filas de espera na assistência social, conciliar a rotina entre casa e trabalho com as múltiplas terapias importantes para o desenvolvimento da criança, sobrecarga emocional devido a intervenções cirúrgicas, problemas com planos de saúde ou sistema público e a luta constante por educação de qualidade, inclusão e direitos.
O esforço diário na rotina de uma família atípica é a esperança de uma qualidade de vida melhor, independência da criança, interação social e acessibilidade. Coisas que podem parecer obvias, mas que, por enquanto, estão distantes de acontecer.
O diagnóstico permite que a família se reorganize para lidar com uma rotina de cuidados intensivos para garantir o desenvolvimento pleno daquela criança, porém, ele não traz uma rede de apoio, não oculta o medo, as inseguranças, as opiniões maldosas ou o preconceito velado na sociedade. No meio de tudo, onde entra os cuidados com a saúde mental da mãe atípica?
De acordo com informações apresentadas pelo Instituto Baresi, em 2012, no Brasil, aproximadamente 78% dos pais deixaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras antes que os filhos atingissem a idade de 5 anos, (Lourenço, 2020).
Muitas vezes, o motivo ocorre pelo fato de não conseguirem lidar com o luto da perda do filho idealizado, resultando no abandono da responsabilidade parental e, consequentemente, forçando a mulher a arcar sozinha com toda responsabilidade de cuidar e manter financeiramente seus filhos.
Nesse sentido, torna-se importante desmistificar a imagem idealizada da mãe atípica, concebida e romantizada pela sociedade como uma mulher forte, guerreira, eleita por algum desígnio divino para essa missão, e buscar compreendê-la como ser humano completo, com sentimentos, erros e, além de tudo, reconhecer suas necessidades de cuidado, garantindo seus direitos como mulher e cidadã.
Por: Maria Fernanda Moreira Mendes
Psicopedagoga Clínica, Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia.
Fonte: Disponível em: LOURENÇO, Taina. Luta de mães de crianças autistas é marcada pela dor do abandono. Jornal da USP. São Paulo, 22 de dezembro de 2020. Acesso em 08 de mar. 2024.
Prezados
Gostaria de informações acerca da possibilidade de envio de artigo acerca de pesquisa de Mestrado do UFRPE/FUNDAJ sobre a invisibilidade das maternidades e maternagens atípicas.
Desde já, agradeço o retorno!