Após a Primeira Guerra Mundial, a moda feminina adotou um toque masculino, famoso por looks da estilista Chanel Após a Segunda Guerra, foi a vez de Christian Dior inventar o New Look, uma referência mais sexy e alegre para comemorar a libertação de Paris. Guerras e pandemias não são iguais, mas compartilham escala global e impacto econômico semelhantes. Em 2020 a moda teve a sua resposta à pandemia da Covid-19. Os estilistas estão tendo que tornar a moda relevante novamente. A moda é uma interpretação do momento. Isso é um grande desafio. Ninguém quer ir a uma loja que parece uma sala de descontaminação com vendedores de máscaras,luvas e macacões. Ao mesmo tempo, há uma linha tênue entre itens essenciais e supérfluos. Os estilistas terão que ter uma sensibilidade em relação a esse período e trazer valor aos consumidores como proteção, conforto ou alegria. A professora de história e teoria da moda, Emilie Hammen, diz que os designers podem reagir de maneiras diferentes dependendo das suas visões da moda. “Podemos presumir que a crise reforçará seus engajamentos originais, sejam eles ecológicos com o meio ambiente; ou sociais com diversidade, feminismo. Mas também poderemos ver algumas grandes mudanças.”
Eu não imagino a moda como uma mentira sobre o que está acontecendo no mundo. O que importa hoje em dia é olhar no espelho, tanto no que diz respeito ao sistema da moda – a maneira que as empresas produzem – quanto ao significado da moda. O meu papel hoje como influenciador é questionar e antecipar esses fatores da moda em si. O setor da moda assim como a grande maioria teve que se adaptar a nova realidade, muitas marcas estão trabalhando remostamente, superando obstáculos logísticos. Grandes marcas internacionais trocaram suas grandes coleções por coleções cápsulas, um formato reduzido para não perder mercado. A pandemia veio pra mostrar que não precisaremos mais de coleções extensas. Esta crise é uma oportunidade para cada marca repensar na sua proposta, não existem mais regras nem datas certas para lançarem coleções.
A grande pergunta que fica, como será a moda pós pandemia?
Chinelo, calça larga e cara limpa, esse foi o look mais popular da quarentena e definitivamente está entre as melhores coisas do home office. Nos últimos meses, salto alto, calça jeans ou qualquer outro tipo de peça que trouxesse incômodo ocuparam o fundo do armário daqueles que começaram a trabalhar de casa. Passou a acontecer um processo de intolerância ao desconforto. Começamos a questionar, e nesse processo, o conforto acabou se sobrepondo a imagem em si. Mas será que o conforto, o moletom os looks despojados vão continuar em alta no futuro pós-pandemia? Olha que maravilha, tudo indica que sim. De acordo com a WGSN, toda tendência surge por um comportamento de consumo, ou seja, uma demanda do consumidor. E justamente por conta dessa demanda, grandes e pequenas empresas da moda foram obrigadas a se moldar a nova realidade e investiram em linhas “Homewear“. Grandes marcas de sapato já trouxeram o conforto para seu dia a dia, uma famosa grife de calçados, trouxe sapatos chiques e confortáveis. Já as marcas de roupa estão trabalhando em tecidos leves e maleáveis. As ‘fast fashion” ampliaram suas coleções e, além das peças previstas, criou a coleção Comfy, oferecendo conjuntos que primam pelo conforto e estilo, com moletons, tricôs, vestidos e acessórios. Calças sequinhas foram transformadas em jogger ou substituídas por calças de malha; vestidos com cintura marcada foram alterados, dando mais liberdade ao corpo e camisas ajustadas ganharam maior volume.
Ainda é difícil afirmar o que será do pós pandemia em tempos de tanta incerteza. Porém, algumas afirmações já podem ser feitas. A prioridade número um continuará, por um bom tempo, sendo a higiene e a proteção individual. A questão de proteção vem não só com o caso das roupas que abraçam, que trazem a ideia de conforto. Mas também uma outra ideia de proteção, com peças que preparam a gente para situações adversas. Além de tecidos que protegem do raio UV, poluição, antiviral… Mas, assim como tudo, a moda não pode ser generalizada. Um grupo pode muito bem permanecer nessa linha de conforto, enquanto outros seguem na linha do exagero e o restante passe a misturar as duas propostas, criando um novo estilo. O que posso afirmar com certeza é que, depois desse processo que a gente viveu, a criatividade vai vir com toda a força, isso faz de nos consumidores os grandes beneficiados. Karl Lagerfeld, criador por trás de empresas como Chanel, Fendi e de sua marca homônima, costumava dizer que “calça de moletom era um sinal de fracasso”. O alemão, que morreu ano passado, talvez mudaria de opinião se tivesse vivido a pandemia. Fato é que eu estou com o meu moletom enquanto escrevo este texto. E você, que me lê, também está?
Nando Medeiros