Cuidados e limites
O equilíbrio das informações recebidas na infância vai determinar adultos saudáveis
Aos pais designa-se o papel de administrar as necessidades básicas dos seres humanos. Se desempenharem bem esse papel, o ser desenvolve-se satisfatoriamente tanto psicologicamente como fisicamente. Presumimos, dessa forma, que seres humanos exercem um poder enorme sobre outros seres humanos, um poder de vida ou morte. Quando nascemos frágeis, necessitamos de cuidados permanentes.
Ao nascer também somos dependentes emocionalmente, precisamos contar com outros para sobreviver psicologicamente. Contaremos com recursos internos próprios e autonomia após a adolescência. Dependeremos, até então, daqueles que cuidarão de nós. O amor, respeito e a confiança que sentimos por nós mesmos refletem nossas primeiras relações estruturantes e ditam como serão nossas relações com e no mundo.
A disponibilidade de pais e mães humanos, na realidade, é muito variável e depende de inúmeros fatores que vão da forma que foram cuidados, a infância, até as circunstâncias peculiares das relações do casal parental, da situação socioeconômica e cultural, valorização ou não dos papéis de pai e mãe na sociedade onde vivem.
Os pequenos dependentes sofrem com as relações intrafamiliares inadequadas. Esses fenômenos geram carências que afetam toda capacidade de relacionar dos indivíduos. Não temos noção do nosso valor pessoal quando nascemos. Absorvemos este valor de fora para dentro. Depende de como e o quanto somos valorizados pelos nossos pais.
As necessidades vão mudando no decorrer do desenvolvimento. É necessário constância, previsibilidade, adequação a estas necessidades. Com o incremento da autonomia a criança vai experimentar cada vez mais segurança e autoestima. As pessoas se amam e se respeitam quando se percebem amadas e respeitadas.
Os pais precisam guiar os filhos para uma percepção mais realista e funcional do mundo, reconhecendo e respeitando o direito dos filhos pensarem, sentirem e se comportarem. A frustração gradual da criança provoca nela uma percepção de que ela e o outro são separados. A frustração provoca irritação, desagrado, birra. Essas respostas são naturais e os pais precisam estar preparados para recebê-las. A expressão das emoções é uma necessidade, se não forem expressas podem voltar-se contra a própria criança e gerar sintomas e atitudes autodestrutivas. É a forma como os adultos que estão perto das crianças agem a principal informação necessária para que as crianças entendam a vida e é aprendendo por ensaio e erro os ensinamentos dos adultos.
O equilíbrio das informações recebidas nesta fase da vida vai determinar adultos saudáveis. O oposto pode proporcionar vários tipos de adultos com problemas nas relações adultas, adultos demasiadamente perfeccionistas, controladoras, inseguras, rebeldes, muito dependentes… Um dos aprendizados mais preciosos que podemos ensinar para nossas crianças é mostrar que eventualmente todas as pessoas, inclusive nós mesmos, estamos sujeitos à enganos, erros e que sempre podemos nos desculpar, reparar.
Então, a criança deve ser valorizada, percebida nas suas vulnerabilidades, imperfeições e radicalidades. A criança deve poder contar com os adultos que são responsáveis por ela, nesta época de profunda dependência.
A negligência das necessidades básicas no desenvolvimento das crianças chamamos abusos. No abuso, os adultos que deveriam cuidar, extrapolam os poderes sobre essas crianças, empreendendo ações violentadoras contra ela, ou se desresponsabilizam de cuidá-la e protegê-la. Como pais, não precisamos ser perfeitos, basta explicitarmos o nosso amor por eles.
Dr. Alfredo Demétrio Jorge Neto
Psiquiatra
Psicoterapeuta
Educador em valores humanos