
A manutenção da taxa Selic em patamares elevados, como os atuais 15%, é frequentemente justificada pelo combate à inflação. No entanto, o economista Armínio Fraga toca em um ponto mais profundo e inquietante ao afirmar que os juros altos no Brasil de hoje são, em grande parte, um sintoma de um “paciente fiscal” preocupante. Essa analogia capta perfeitamente a relação viciosa entre a alta dívida pública e as taxas de juros, uma dinâmica que sufoca a economia e mina qualquer chance de desenvolvimento sustentável.
A Dívida Pública Federal, encerrou o mês de agosto de 2025 em R$8,145 trilhões, segundo Relatório do Tesouro Nacional. Já a relação da dívida pública e o PIB brasileiro, é estruturalmente alta e exige uma quantidade significativa de dinheiro apenas para o seu serviço. Quando o governo precisa se financiar, ele emite títulos. Em um cenário de incerteza fiscal (onde há dúvidas sobre a capacidade futura do governo de pagar essa conta), os investidores exigem um prêmio de risco maior. Esse prêmio se traduz diretamente em juros mais altos.
Em outras palavras, o Banco Central é forçado a manter a Selic alta não apenas para combater a inflação de demanda, mas principalmente para garantir que o governo consiga rolar sua própria dívida. É um círculo perverso:
- Dívida Alta e Sem Credibilidade Fiscal → Risco percebido alto.
- Investidores Exigem Juros Maiores → O custo de se financiar no Brasil dispara.
- Governo Paga Juros Mais Altos → A dívida cresce ainda mais rápido.
O impacto se espalha por toda a economia, prejudicando dois pilares essenciais: o Crescimento (aumentar o PIB) e o Desenvolvimento Econômico (melhorar a qualidade de vida e a capacidade produtiva).
- Drenagem de Recursos: O pagamento dos juros da dívida se torna a maior despesa do Orçamento da União, desviando trilhões de reais que poderiam ser investidos em infraestrutura, educação e saúde. Sem esses investimentos cruciais, a produtividade do país não avança, limitando nosso potencial de crescimento.
- Asfixia do Investimento Privado: Com a Selic em 15%, o dinheiro parado em títulos públicos (a chamada renda fixa) oferece um retorno altíssimo e praticamente sem risco. Isso desincentiva o setor privado a investir em projetos produtivos (como abrir uma fábrica ou inovar em tecnologia), que são muito mais arriscados. Por que arriscar em um novo negócio se o governo paga 15% para você não fazer nada?
- Encarecimento do Crédito: O crédito para famílias e empresas, que é a base do consumo e do investimento, fica extremamente caro. Isso freia a expansão de pequenos e médios negócios e impede que as famílias melhorem seu padrão de vida, minando o desenvolvimento social.
Para que o Brasil comece a curar seu “paciente fiscal”, é preciso mais do que apenas a política monetária do Banco Central. É urgente demonstrar aos mercados que o governo tem um plano crível e sustentável para controlar seus gastos e reduzir o endividamento. Só assim o prêmio de risco diminuirá e os juros poderão cair de forma sustentável, liberando o capital necessário para que o Brasil volte a investir em seu próprio futuro.
Fonte imagem: UOL (2025)
