Indústria: Um suspiro de 0,8% em agosto, mas o caminho ainda é de subida

Fonte imagem: Agência Brasil (2025).

O avanço de 0,8% na produção industrial brasileira em agosto, divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (3), soa como um alívio, ao menos em um primeiro momento, mas não como a cura definitiva. O número, que superou as expectativas do mercado (que projetava alta de 0,3%) e interrompeu uma sequência de quatro meses sem crescimento significativo, é um respiro bem-vindo, mas ainda indica um setor que luta para encontrar tração estrutural.

A primeira leitura é inegavelmente positiva. O aumento na passagem de julho para agosto, na série com ajuste sazonal, demonstrou uma recuperação, embora parcial, das perdas acumuladas no período anterior. O crescimento foi disseminado, com 16 dos 25 ramos industriais pesquisados e três das quatro grandes categorias econômicas (bens intermediários, bens de consumo semiduráveis e não duráveis, e bens de consumo duráveis) registrando avanço. Isso sugere que o movimento de alta não se concentrou em um único setor.

No entanto, deve-se ter precaução. O próprio IBGE indica que esse crescimento se dá sobre uma base de comparação depreciada, o que significa que o avanço foi mais fácil após meses de resultados fracos ou negativos. Além disso, quando olhamos para a comparação anual – que é a medida mais clara do dinamismo da economia – a situação se inverte. Em relação a agosto de 2024, a produção industrial recuou 0,7%.

O principal ponto de preocupação reside na categoria de bens de capital, que representa investimentos futuros e capacidade de produção. Este segmento foi o único a registrar queda no mês, recuando 1,4%, intensificando a retração e marcando a quarta queda consecutiva. A persistente fraqueza nos bens de capital é um reflexo direto do principal entrave do setor: a política monetária restritiva.

Com a taxa básica de juros (Selic) ainda em patamares elevados, o custo do crédito encarece, o que afeta diretamente as decisões de investimento de longo prazo. As empresas se tornam mais cautelosas ao tomar empréstimos para expandir ou modernizar suas fábricas, impactando negativamente a produção de máquinas e equipamentos.

No acumulado do ano, a indústria soma uma alta modesta de 0,9%, e nos últimos 12 meses, de 1,6%. Esses números confirmam a leitura de que o setor ainda opera em marcha lenta.

Em resumo, a indústria brasileira deu um passo à frente em agosto, mas esse passo foi impulsionado mais pela recuperação de perdas anteriores do que por uma aceleração robusta. Enquanto houver incerteza sobre a trajetória de queda dos juros e o crédito permanecer caro para o investimento, o setor industrial continuará a flertar com a estagnação. O PIB agradece o suspiro de agosto, mas para uma retomada sólida, a indústria precisa de tração, e não apenas de um momento de alívio.

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