Publicitário Marcus Vinicius Ferreira analisa como o poder de decisão das crianças transforma campanhas, exige ética das marcas e abre novas oportunidades para o varejo físico e digital.
A forma como marcas e lojistas se comunicam com o público infantil está passando por uma revolução silenciosa, mas poderosa. O fenômeno conhecido como “Kidfluence” — o poder de influência das crianças nas decisões de consumo da família — está remodelando a publicidade voltada para o Dia das Crianças e outras datas comemorativas. “Hoje, a criança deixou de ser apenas público-alvo e se tornou co-decisora de compra. Isso muda tudo”, afirma o publicitário Marcus Vinicius Ferreira, especialista em comportamento do consumidor e marketing de influência.
Essa transformação exige uma comunicação que vá além do discurso voltado aos pais. É preciso falar a linguagem da criança, utilizando canais e formatos que fazem parte da sua rotina, como TikTok, YouTube Shorts e Reels. Mas, mais do que captar atenção, Marcus Vinícius defende uma publicidade mais humana e participativa, que estabeleça uma relação triangular entre marca, criança e família — sempre com responsabilidade.
Ética, criatividade e oportunidade para o varejo
Segundo o especialista, o maior desafio atual não é vender, mas vender com ética. Isso significa evitar frases apelativas, artifícios de escassez ou qualquer argumento que gere na criança a sensação de que ela será incompleta sem determinado produto. “A marca precisa ser percebida como alguém que contribui com o desenvolvimento infantil, e não apenas como uma vendedora”, reforça Marcus Vinícius. A transparência, nesse contexto, é não só uma exigência legal, mas uma condição para gerar confiança e fidelidade no longo prazo.
A boa notícia é que, mesmo com orçamentos limitados, pequenos e médios lojistas podem se beneficiar da nova lógica do consumo infantil. A dica de Marcus Vinícius é clara: focar em nanoinfluenciadores locais, que têm mais conexão e credibilidade dentro das comunidades. “Não é necessário investir em celebridades. A influência verdadeira vem de quem está próximo do consumidor.”
Outro ponto fundamental é o investimento em conteúdo em vídeo curto, especialmente aqueles com links diretos para compra, os chamados shoppable videos. A jornada do consumidor nas redes sociais é cada vez mais curta e emocional. O pico de buscas por presentes acontece cerca de duas semanas antes do Dia das Crianças, o que exige que as marcas estejam prontas para impactar o consumidor no momento exato em que o desejo de presentear está no auge.
Mas o apelo emocional das redes também traz riscos. Com crianças influenciando diretamente as decisões de compra, é comum que pais se deparem com pedidos impulsivos baseados em vídeos virais. Nesse cenário, o papel da família é atuar como um filtro crítico, mudando o foco da conversa de “quero ter” para “como vou usar”. O brinquedo promove habilidades? Estimula a imaginação? Pode ser usado de várias formas? “Transformar desejo em escolha consciente é responsabilidade dos pais”, lembra Marcus Vinícius.
Consumo por impulso e propaganda enganosa
Atenção também para os riscos do consumo por impulso e da propaganda enganosa. Brinquedos que parecem grandes nas fotos, mas são minúsculos ao vivo; produtos que não vêm com baterias ou acessórios essenciais; ou mesmo sites que não entregam o que prometem. A recomendação é sempre conferir avaliações reais de outros compradores, optar por sites confiáveis, e dar preferência ao cartão de crédito, que oferece mais segurança em caso de fraude.
No cenário físico, o varejo ainda pode ter um papel relevante. Para competir com o e-commerce, a estratégia é transformar a loja em um lugar de experiência e afeto. Oficinas, contações de história, gincanas e até encontros com personagens infantis criam momentos inesquecíveis e aumentam as chances de conversão. Além disso, muitas famílias ainda buscam o presente de última hora — e a loja física é a única solução viável quando o prazo de entrega já passou.
Dicas importantes para a data
Para os lojistas, Marcus Vinícius recomenda investir em produtos que estimulem a criatividade, como kits “faça você mesmo”, materiais de arte ou brinquedos que envolvam construção e imaginação. Ele também destaca a importância de integrar o físico e o digital com ações omnichannel — como a possibilidade de comprar online e retirar na loja com um brinde especial. Outro diferencial é a “entrega mágica”: embalagens personalizadas com o nome da criança, desenhos e mensagens divertidas que transformam o ato de receber o presente em uma experiência memorável.
Já para os consumidores, a principal dica é antecipar as compras para evitar estresse, preços mais altos e prazos de entrega apertados. Com planejamento e consciência, é possível transformar o Dia das Crianças em uma data especial para a criança, para a família e para o comércio.