Amipa e Abrapa promovem workshop para padronizar classificação de contaminantes em pluma de algodão

A Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), realizou, nos dias 2 e 3 de setembro, na sede da Central de Classificação de Fibra de Algodão (Minas Cotton) em Uberlândia (MG), o Workshop de Classificação de Contaminantes em Pluma. O encontro reuniu 20 profissionais, entre classificadores e gerentes de laboratórios, que, durante dois dias de atividades teóricas e práticas, se aprofundaram na metodologia de identificação, codificação e avaliação de contaminantes, tomando como referência o modelo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

O objetivo do treinamento foi definir o padrão de referência que será adotado no Brasil nesta safra 2024/2025, em caráter piloto, alinhando o país às exigências internacionais de qualidade e competitividade. Minas Gerais foi escolhido para sediar a iniciativa por seu histórico pioneiro: desde 2018, o estado adota procedimentos semelhantes de codificação de contaminantes e mantém um banco de amostras de referência para subsidiar decisões técnicas.

Contaminantes que afetam a qualidade da fibra
De acordo com a Nota Técnica sobre Contaminação no Algodão, divulgada pela Abrapa em 2024, os principais contaminantes extrínsecos que afetam a fibra brasileira são: plástico, fragmentos da casca da semente (seed coat), pegajosidade causada por insetos sugadores, além de resíduos de caule, capim, picão-preto, fibras estranhas e até materiais industriais, como metais e tecidos. Esses elementos prejudicam o desempenho do algodão na indústria têxtil, comprometem a aparência e a resistência dos fios e geram perdas econômicas expressivas.

Apenas a contaminação por plástico, por exemplo, pode representar um deságio de até 4.000 pontos na negociação internacional, o que corresponde a centenas de milhões de reais em perdas, por safra. “Essas características extrínsecas desvalorizam o algodão e reduzem sua competitividade. Quanto mais cedo forem identificadas, mais rápido será possível agir para mitigá-las”, explicou Deninson Lima, gerente de qualidade da Abrapa e um dos instrutores do workshop.

Metodologia e padronização
Segundo Deninson, o treinamento realizado em Uberlândia foi inspirado na visita técnica ao USDA, em agosto, onde especialistas brasileiros aprenderam em detalhes o sistema de classificação norte-americano. “Estamos criando um padrão para o algodão brasileiro, que possa ser comparável a nível mundial. O objetivo é mitigar os contaminantes e dar mais transparência aos compradores, internos e externos, agregando valor ao nosso produto”, destacou.

Anicézio Resende, gerente de laboratório da Amipa, reforçou que Minas Gerais foi escolhida como sede do projeto justamente por sua experiência acumulada. “Minas já codifica essas contaminações desde 2018 e mantém um banco de dados de amostras. Agora, estamos replicando para representantes de outros estados o conhecimento adquirido nos Estados Unidos, multiplicando a experiência, para que o Brasil se organize e se aproxime da referência mundial em qualidade de algodão”, afirmou.

Resende lembrou ainda que o estado ocupa a terceira posição nacional em produção, com cerca de 45 mil hectares cultivados nesta safra, combinando produtividade com qualidade reconhecida de fibra.

Desafios identificados
Os principais desafios do setor, segundo Edson Mizoguchi, gestor da Abrapa para qualidade, continuam sendo a presença de seed coat, fragmentos, pegajosidade e plástico. “Identificar a quantidade desses contaminantes é fundamental para que possamos agir de forma direcionada junto aos produtores. Só com dados estatísticos será possível adotar estratégias eficazes de mitigação e reduzir os impactos para a indústria têxtil e para o mercado consumidor”, disse.

A visão da indústria também foi incorporada ao workshop. Carolina Amaral, analista de qualidade da Capricórnio Têxtil, destacou a importância da padronização para alinhar expectativas entre produtores, tradings e compradores finais. “Hoje, muitas vezes, aquilo que é aceitável para o fornecedor não é aceitável para a indústria. O workshop cria uma linguagem comum entre todos os elos da cadeia, permitindo que cada lote de algodão seja destinado de forma mais assertiva e transparente”, avaliou.

Perspectivas
A iniciativa do workshop faz parte do Projeto de Classificação e Mitigação de Contaminantes da Abrapa, que tem metas estabelecidas até 2030 e visa consolidar um sistema nacional robusto de classificação, assegurando a qualidade do algodão brasileiro e fortalecendo sua imagem no mercado global.

O evento é o primeiro passo prático desse movimento. A expectativa é que, a partir das experiências piloto desta safra, o modelo seja gradualmente expandido para todo o país. “Quando você aponta, você consegue melhorar. Ao identificar e codificar as contaminações, o produtor passa a ter subsídios para ajustar o manejo, o plantio e o beneficiamento, melhorando a cada safra”, resumiu Anicézio Resende.

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