O governo dos EUA intensificou a análise de redes sociais por da inteligência artificial, em busca de ameaças. O controle se estende a discursos, participação em protestos e apoio público a grupos estrangeiros.
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O visto de estudante deixou de ser apenas um processo burocrático e passou a ocupar papel central na estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos. Além de comprovar condições acadêmicas e financeiras, os solicitantes do visto F-1 agora enfrentam uma análise que envolve geopolítica, histórico digital e até posicionamentos em redes sociais, o que pode determinar a aprovação ou negativa do visto, conforme explica o advogado licenciado no Brasil Bruno Lossio, especialista em imigração e CEO da Premium Global Mobility Partner.
Segundo Lossio, o processo passou a ter um peso muito maior, envolvendo geopolítica, redes sociais e a análise, pelas autoridades americanas, do posicionamento público dos solicitantes sobre quem pretende ingressar no país. “Se, de um lado, há a liberdade de expressão plena, garantida a qualquer pessoa nos Estados Unidos, cidadão ou não, por outro lado, existe a autonomia do país em permitir a fiscalização de pessoas que pretendem entrar em solo americano. Então, se de um lado estamos falando de proteção, do direito à privacidade das pessoas, por outro lado, estamos falando da autonomia do país de verificar e analisar quem pretende entrar aqui”, explicou Lossio.
Esse endurecimento das regras ficou evidente nos números mais recentes. O Departamento de Estado confirmou que mais de 6 mil vistos de estudantes foram revogados somente em 2025, como parte da estratégia de repressão do governo Trump. De acordo com a autoridade do órgão, a maior parte das revogações está ligada a violações da lei, como agressão, direção sob influência de álcool, roubo e até casos classificados como “apoio ao terrorismo”. Também foram afetados estudantes que permaneceram no país após o vencimento do visto.
Para acelerar o processo, o governo americano tem utilizado inteligência artificial para monitorar aqueles que solicitam o visto e bloqueado os perfis considerados suspeitos ou vinculados a protestos políticos, guerras e imigração, conforme alerta Lossio. “Principalmente comentários que ataquem a administração e as medidas do governo americano”, disse.
Ele acrescenta: “Esse é um tipo de comentário que está em foco total. Então, se você trabalhou aqui, conhece alguém que trabalha ou comenta postagens de empresas que estão contratando sem ter autorização e fizer postagens a favor da guerra, provavelmente vai ter dificuldades”.
Entre abril e maio de 2025, mais de mil vistos de estudantes e graduados foram revogados nos EUA, muitos deles por envolvimento em manifestações ou postagens políticas. A estratégia, chamada de “catch and revoke” (pegar e revogar), demonstra como o visto estudantil passou a ser uma ferramenta de segurança nacional.
Estudantes envolvidos em protestos pró-Palestina, como no caso do massacre de Mahmoud Khalil, enfrentaram perseguição migratória e restrições adicionais de entrada nos EUA.
Monitoramento das redes sociais
Além da vontade de estudar nos Estados Unidos, o estudante deve provar suas intenções ao governo americano. Com o controle intensificado, consulados avaliam se o solicitante realmente pretende estudar ou imigrar de modo definitivo, lembrando que o visto F-1 é um visto para não imigrantes. O advogado Bruno Lossio esclarece a importância de manter as redes sociais desbloqueadas.
“Você precisa informar suas redes sociais no formulário chamado DS-160 e deixá-las desbloqueadas, se não o oficial vai entender isso como resistência, o que pode levar à negativa do seu pedido. Isso vale para os vistos F, M e J, todos vistos de estudante de categorias diferentes”, afirmou.
Portanto, os estudantes devem ficar atentos às entrevistas detalhadas, aos formulários extensos e à análise reforçada das redes sociais.
Segundo Henrique Scliar, especialista em direito internacional e imigração e Sócio-CEO da Premium Global Mobility Partner, o processo exige planejamento. Confira o passo a passo para conquistar o visto F-1:
1. Escolher a instituição de ensino
Verifique se é credenciada pelo Student and Exchange Visitor Program (SEVP), programa do governo americano que autoriza instituições a receberem estudantes internacionais.
2. Ser aceito e receber o I-20
Esse documento confirma sua matrícula, curso, duração e custos estimados.
3. Comprovar proficiência em inglês
“No meu mestrado em Direito na USC, em Los Angeles, precisei apresentar o TOEFL, que é um teste de proficiência em inglês exigido pela maioria das universidades americanas. Cada instituição tem sua pontuação mínima”, explica Henrique.
4. Preparar documentos pessoais e acadêmicos
Passaporte, histórico escolar, carta de motivação (personal statement) e, em alguns casos, entrevistas em inglês com o departamento acadêmico.
5. Pagar a taxa SEVIS
Essa taxa mantém o Student and Exchange Visitor Information System, sistema que monitora os estudantes internacionais nos EUA.
6. Preencher o formulário DS-160
Formulário eletrônico de solicitação de visto americano, no qual você informa dados pessoais, acadêmicos e financeiros.
7. Agendar e realizar a entrevista no consulado ou embaixada
“Seja claro, objetivo e verdadeiro nas respostas. O F-1 não permite trabalho fora do campus, apenas dentro da instituição, até 20 horas semanais durante o curso. Após um ano, em alguns casos, é possível aplicar para estágio ou trabalho temporário relacionado à área de estudo”, destaca Henrique.
Para Henrique, apesar dos desafios, o visto F-1 abre portas. “Estudar nos EUA te dá segurança, oportunidade acadêmica, profissional e um networking extraordinário. Cada pessoa tem um caminho diferente, mas, com planejamento, é possível transformar esse sonho em realidade”, afirma.