O endividamento das famílias brasileiras voltou a crescer em junho, alcançando 78,4% contra 78,2% registrados em maio. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Este é o quinto mês consecutivo de alta.
A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer em carnês de loja, cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, empréstimo pessoal e financiamentos de veículos e imóveis.
Apesar do aumento do endividamento, a inadimplência permaneceu estável: 29,5% das famílias declararam estar com contas em atraso — mesmo percentual de maio. A fatia de consumidores que afirmam não ter condições de pagar dívidas vencidas também ficou inalterada, em 12,5%. Já o tempo médio de atraso recuou ligeiramente, de 64,3 para 64,1 dias.
O levantamento aponta ainda queda no comprometimento da renda. O percentual de famílias que destinam mais da metade dos ganhos ao pagamento de dívidas recuou para 19,2%, fazendo com que a média do orçamento comprometido caísse para 29,6%.
Classe média baixa impulsiona alta
Segundo a Peic, o avanço no endividamento foi puxado, principalmente, pelas famílias de classe média baixa. Entre aquelas com renda de até três salários mínimos, a taxa passou de 81,0% para 81,1% entre maio e junho. No grupo com renda mensal de três a cinco salários mínimos, subiu de 80,3% para 80,9%. Já nas faixas mais altas, houve recuo: de 78,9% para 78,7% entre cinco e dez salários mínimos, e de 67,6% para 67,5% acima de dez salários mínimos.
Para Wagner Palma, assessor de investimentos da WFlow, o movimento reflete uma combinação entre conjuntura econômica e comportamento de consumo. “Com a queda do desemprego, as famílias se animam a comprar e financiar seus sonhos via endividamento, tendo a segurança de que poderão arcar com as prestações”, afirma.
Mesmo com juros elevados, o parcelamento continua liderando o endividamento. “A contratação de crédito é uma variável da renda e do poder de compra. Uma vez alcançado o patamar em torno de 30% da renda, naturalmente o acesso ao crédito se contrai, as vendas parceladas diminuem e a economia passa por um arrefecimento. Cabe lembrar que economia aquecida gera inflação, e o oposto também é verdadeiro”, explica Palma.
Risco nas finanças
Especialistas alertam que o número de endividados pode crescer ainda mais com a chegada de datas como Dia das Crianças, Black Friday e Natal, que tendem a intensificar o consumo e aumentar o risco para famílias já com renda comprometida.
“Quem destina mais de 20% dos ganhos mensais para dívidas ou utiliza intensamente o cartão de crédito pode estar próximo de um colapso das finanças pessoais. Resistir aos apelos de consumo e ter sobriedade nas decisões de compra é essencial para evitar situações críticas”, orienta o especialista da WFlow.