Por Marina Bertollucci, Superintendente Executiva de Pessoas e ESG na Tecban
Em termos de semântica, dinheiro é o “meio de pagamento, na forma de moedas ou cédulas, emitido e controlado pelo governo de cada país”. Mas para além dos limites do dicionário, no entendimento popular, ele pode ganhar outras definições. Na esteira dos novos significados, não é novidade que a forma como as pessoas se relacionam com o dinheiro tem mudado. Quando o assunto é tecnologia de meios de pagamento, o Brasil é referência em fazer dar certo soluções inovadoras, à exemplo do Pix. E na era mais conectada da história, a impressão que pode ficar é de que o “dinheiro de papel” não é mais tão crucial. Entretanto, será que essa ideia reflete a realidade de todo o País?
Nos grandes centros urbanos a vida acontece online: do pedido de lanche no delivery, à solicitação de “carro de aplicativo” e, por consequência, o pagamento desses serviços.
Mas no país de dimensões continentais, que no último Censo Demográfico registrou 274 línguas indígenas diferentes faladas por 305 etnias, a vida, obviamente, não acontece apenas nas capitais e, de Norte à Sul, há diferentes realidades. Estamos falando do País que ainda ocupa a 84ª colocação no ranking global do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 193 nações. Internamente, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) aponta que 57 milhões de brasileiros vivem na situação de desenvolvimento socioeconômico baixo ou crítico. Assim, é importante refletir se, de fato, todos os brasileiros acessam essa mesma realidade de inclusão à dinâmica financeira do Brasil.
Em contextos em que a digitalização é limitada, o dinheiro em espécie torna-se um símbolo de confiança. Mesmo em 2025, em locais mais remotos a inclusão digital caminha a passos lentos ou ainda nem chegou. Quando pagar digitalmente não é uma opção, o dinheiro tem seu significado original e é contado em notas na mão.
Dos usuários de internet, apenas 22% têm acesso a uma conectividade significativa, considerando conhecimentos e habilidades digitais necessários para utilizar a internet todos os dias, em um dispositivo adequado e com a quantidade de dados e a velocidade de acesso apropriados. É o que diz a pesquisa TIC Domicílios 2024, do Cetic.br, que afirma que 29 milhões de brasileiros ainda não têm internet. Nesse contexto, é razoável pensar que o Pix pode não ser tão habitual como nas capitais digitalizadas. Para essas pessoas o dinheiro na mão é o que permite a gestão da vida financeira.
Quando o mundo pensa em digitalizar, é preciso pensar em incluir
Enquanto lê esse texto do seu smartphone ou notebook, conectado a um potente sinal de Wi-Fi, pode ser difícil pensar que em alguns cantos do interior do Brasil alguém precisa deixar seu cartão e dados bancários pessoais e intransferíveis com terceiros que viajarão em estradas inseguras ou rios até cidades vizinhas para ter acesso ao dinheiro de seu salário ou benefício social.
Pensar em inclusão financeira é, além de considerar e reconhecer essa realidade, pensar em promover o desenvolvimento local sustentável. É contribuir para o fortalecimento da autonomia das comunidades, levando mais acesso aos serviços financeiros com praticidade e proporcionando independência ao cidadão. A inclusão financeira só é real quando alcança todos os territórios e não só os grandes centros comerciais.
Prova disso é que, mesmo em 2025, o Banco24Horas segue expandindo a sua presença em municípios longínquos cujo acesso a serviços financeiros é escasso e situações como a mencionada anteriormente é recorrente. Muitas das localidades são de difícil acesso e a logística não permite a chegada de um caixa eletrônico tradicional, que pesa pouco mais de uma tonelada. Nesses casos, a solução é levar o serviço financeiro embalado em um dispositivo compacto (Atmo) que fica em cima do balcão do comércio local e permite que os brasileiros daquela região possam sacar seu benefício, consultar seu saldo, pagar suas contas e gerir com mais praticidade e conveniência a sua vida financeira sem que para isso seja preciso viajar até outra cidade. Sendo assim possível realizar compras na própria cidade e movimentar a economia local.
É a tecnologia trabalhando em prol do bem-estar humano. A maior inovação está em levar uma solução para uma dor real do brasileiro real, apoiando sua comunidade de forma sustentável. Por mais que para quem está nas metrópoles, assim como eu, o dinheiro já é associado a uma representação digital, promover inclusão financeira significa respeitar a maneira como cada pessoa entende o valor semântico do “dinheiro”.