A recente imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos reacendeu uma tensão econômica com forte impacto diplomático. O especialista em Gestão Governamental e Políticas Públicas, Paulo Serra, alerta que a sobreposição da polarização política à boa gestão tem prejudicado a economia e afetado diretamente o cidadão comum.
Para Serra, diferentemente de boa parte das reações que politizaram ainda mais o episódio, é necessário tratar o tema com racionalidade e equilíbrio. “Essa crise não é apenas resultado de uma decisão externa – ela é alimentada internamente por narrativas extremadas que tomaram conta da política nacional”, observa. Segundo ele, a disputa política interna acabou por transbordar para o campo diplomático e comercial, gerando insegurança e afastando decisões econômicas da lógica técnica.
“A consequência disso é grave: exportadores perdem mercado, o país perde divisas, investimentos e empregos. A imagem internacional do Brasil se fragiliza, tornando-o instável e imprevisível aos olhos do mundo”, afirma o especialista.
Na avaliação de Serra, quem mais sofre os impactos são os cidadãos comuns, que enfrentam aumento do dólar, inflação nos preços de produtos e uma realidade de instabilidade no emprego e no poder de compra.
Como caminhos para superar a crise, Paulo Serra defende a retomada de uma diplomacia técnica e não ideológica, com o Itamaraty à frente. “É preciso reativar o diálogo direto com lideranças norte-americanas, sem ruídos políticos”, recomenda. Ele também propõe acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), reforçando o compromisso com as normas internacionais e retirando o debate do campo retórico.
Além disso, ele sugere a diversificação dos mercados brasileiros para reduzir a dependência dos Estados Unidos. “O Brasil precisa apostar em novos parceiros e, sobretudo, blindar sua política externa da polarização. A diplomacia deve ser uma política de Estado, e não uma extensão das batalhas eleitorais”, ressalta.
Para Serra, o tarifaço é desproporcional, mas também é consequência da imagem fraturada que o Brasil tem projetado ao mundo. “Quando líderes políticos transformam o país em um palco de confronto permanente, os efeitos extrapolam a política e atingem em cheio a economia, os empregos e a estabilidade nacional”, afirma.
Ele conclui que é urgente retomar o profissionalismo diplomático, com foco em previsibilidade institucional e construção de pontes com parceiros estratégicos. “Não se combate um tarifaço com trincheiras ideológicas nem com discursos inflamados, tampouco com o silêncio pragmático do ‘deixa como está’. Esse momento exige planejamento, diálogo, unidade, visão de futuro e, acima de tudo, gestão”, finaliza.
Paulo Serra é especialista em Gestão Governamental e em Políticas Públicas, pela Escola Paulista de Direito; e em Financiamento de Infraestrutura, Regulação e Gestão de Parcerias Público-Privadas (PPPs), pela Universidade de Harvard (Estados Unidos); cursou Economia, na Universidade de São Paulo (USP); é graduado em Direito, pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo-SP; professor universitário, é presidente da Executiva Estadual do PSDB de São Paulo e foi prefeito de Santo André-SP de 2017 a 2024