O presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou, na terça-feira (9), a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras destinadas ao mercado norte-americano. A medida, segundo Trump, é uma resposta direta ao que ele classificou como uma “perseguição judicial” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.
A decisão foi comunicada publicamente por Trump em sua plataforma de mídia Truth Social. Segundo publicação do portal Mercopress, Trump afirmou que as tarifas entram em vigor a partir de 1º de agosto de 2025 e visam corrigir o que chamou de “sérias injustiças do sistema atual”. Ele acrescentou que a ação é “necessária diante da grave violação à democracia com a prisão política de um líder honesto”, referindo-se a Bolsonaro.
De acordo com reportagem da Reuters, o governo brasileiro foi pego de surpresa com o anúncio e iniciou imediatamente uma série de reuniões com representantes do setor produtivo e diplomatas brasileiros nos Estados Unidos. A equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia o impacto da medida sobre o comércio bilateral e analisa a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
O jornal The Guardian destacou que Trump vem utilizando a defesa de Bolsonaro como bandeira de campanha junto ao eleitorado conservador e tem se aproximado de lideranças populistas internacionais. Ainda segundo a publicação, Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e afirmou que, sob seu governo, o Brasil voltaria a ser tratado como parceiro estratégico.
Dados do Departamento de Comércio dos Estados Unidos indicam que, em 2024, o Brasil exportou aproximadamente 38 bilhões de dólares em bens para o mercado norte-americano. Os principais produtos foram minério de ferro, aço semiacabado, carne bovina, café, celulose, etanol e aeronaves. Uma tarifa de 50% sobre esses produtos pode afetar diretamente a competitividade das exportações brasileiras e provocar impacto relevante sobre a balança comercial.
Segundo análise publicada no Wall Street Journal, embora Trump tenha declarado que o objetivo é corrigir um “relacionamento comercial injusto”, os Estados Unidos apresentaram superávit na balança bilateral com o Brasil em 2023, o que contradiz a argumentação utilizada pelo republicano.
O governo Lula ainda não anunciou uma resposta oficial, mas, segundo fontes citadas pela Reuters, o Itamaraty considera tratar o caso como um tema de campanha eleitoral interna dos Estados Unidos. Ainda assim, o Ministério das Relações Exteriores avalia adotar medidas diplomáticas e comerciais caso a tarifa seja realmente implementada em agosto.
Especialistas em comércio internacional ouvidos pelo jornal El País afirmaram que a medida tem forte caráter político e é incomum para o estágio atual da relação entre os dois países. A expectativa é de que as tarifas, se aplicadas, sejam contestadas legalmente e que haja pressão de setores empresariais dos dois lados para reverter a decisão.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota informando que acompanha o caso com preocupação e que já iniciou diálogo com autoridades brasileiras para mitigar os efeitos da nova política tarifária norte-americana. Já a Frente Parlamentar da Agropecuária declarou, por meio de seus representantes, que a medida de Trump é “extremamente nociva ao setor produtivo rural” e que buscará interlocução com congressistas norte-americanos.
O episódio marca uma nova fase de tensão nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos e insere o país sul-americano no centro da disputa política norte-americana em um ano eleitoral.