O lugar que une a cultura de Uberlândia e homenageia a musicista Cora Pavan
Prestes a completar 64 anos, o Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli mantém viva a vontade da fundadora de mostrar e incentivar os talentos da cidade
O Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli recebeu o nome da grande artista uberlandense que fundou a escola. Em julho de 1957, a pianista Cora (in memorian) realizou o sonho de estar à frente de uma instituição para ensinar arte em Uberlândia. No ano de 2021, a musicista faleceu, mas o trabalho dela continua fazendo diferença na cultura da cidade.
Cora era apaixonada pela escola, ela sempre acreditou na democratização da cultura e lutou por isso. Hoje, o conservatório é reconhecido mundialmente pelos talentos que passam por lá. Nice Lea, ex-participante do The Voice +, é uma delas. “O conservatório teve uma contribuição muito boa na minha vida. Eu participava do coral e nós tínhamos aula de solfejo”, relembrou a cantora.
Cada pessoa que passa por aqueles corredores cria uma linda história com o conservatório, que também é o caso da ex-diretora Mirtes Guimarães. Quando criança, ela morava em Monte Alegre de Minas e ia para Uberlândia para participar das aulas. “Gosto muito de destacar que é uma instituição onde estudamos e, depois de escolhermos como curso superior a música, voltamos para lá, de onde na verdade nunca saímos. Mas, retornamos como professores”, diz.
Foi assim também com o atual diretor, Júlio César de Almeida, que começou a história dele no Conservatório na década de 90 e em 2016 passou a estar à frente da instituição. “Posso dizer que lá foi o meu primeiro contato formal com a música, apesar de já ser um ouvinte e apreciador de música clássica e chorinho desde criança”, afirma.
Ao relembrar toda trajetória como diretor, Júlio Cesar percebe que houve apenas crescimento e afirma que continuará lutando para levar cultura e ensino musical para Uberlândia e região. “Criamos, junto a comunidade, a MMusica (Mostra de Música e Artes do Conservatório), que nas 4 edições realizou espetáculos, materclasses com renomados professores e artistas, bem como apresentações com mais de 3 mil alunos por ano subindo ao palco do Teatro Municipal. Nosso ponto alto foi quando criamos um coral com 2.500 vozes para cantar músicas pela paz em parceria com o Grupontapé de Teatro. Assim, conseguimos atender melhor toda comunidade com mais qualidade, mais arte e conforto”, diz.
No início, o ensino ainda era limitado aos instrumentos, mas hoje o conservatório já tem aulas de desenho, artesanato, música, expressão corporal e muito mais. Marília Mazzaro é professora de Percepção Musical e Oficina de Multimeios no Curso Técnico, algo inovador na região. “Eu dou aula de teoria musical e treinamento auditivo/solfejo rítmico-melódico. Multimeios é Música e Tecnologia. Dou aula de softwares e aplicativos que trabalham com música, desde a editoração de uma partitura, até a gravação de música dentro do Estúdio Escola. É um trabalho rico, com mil possibilidades dentro desse universo da Música e Tecnologia”, explica.
O resultado desse ensino é tão rico que a instituição realiza anualmente a Mostra de Música e Tecnologia do Conservatório de Uberlândia. O diretor da escola, Júlio César, diz que esse tipo de evento é possível porque a cidade valoriza esses trabalhos. “Uberlândia é uma cidade privilegiada, pois possui um povo que gosta e valoriza sua cultura e a arte”, afirma.
Esse é o reflexo da luta de Cora Pavan Caparelli e de todos os alunos e professores que ela inspirou a lutar pela cultura. De acordo com Ana Cristina Gonçalves, amiga pessoal da pianista, Cora sempre acreditou na música como meio de transformação de vida.
“A Dona Cora sempre me falava que a música educa as pessoas, disciplina. O meu filho sempre gostou de violão. Cora sempre falava para eu colocá-lo em uma escola de música e realmente, depois que ele conheceu a música o meu filho é uma nova criança”, contou Ana Cristina.
O mundo da música perdeu Cora Pavan Caparelli em março de 2021, mas a musicista deixou um grande legado que continuará inspirando várias outras gerações. As pessoas ainda lembram dela com muito carinho e lágrimas nos olhos. A cantora Nice Lea contou que após as aulas no Conservatório, a pianista sempre convidava os alunos para lanchar na casa dela. “Ela demonstrava um carinho todo especial com os alunos”, conta.
Ela também marcou a vida de Ana Cristina, amiga que ela sempre fazia questão de estar próxima. “Dona Cora era uma pessoa incrível, um ser humano incrível. Eu nunca conheci uma pessoa igual ela na minha vida. Ela era amorosa, atenciosa, muito educada e se preocupava com todo mundo, respeitava a todos, eu convivi e aprendi muitas coisas com ela, afirma.
Para o diretor do Conservatório, Cora continuará sendo sempre a referência para a instituição. “Ela tinha a fala da autoridade e suas palavras eram um bálsamo. Em todo lugar que chegava era aclamada com efusivas palmas. Foi uma pioneira no seu tempo e região para o ensino de arte com um olhar na empregabilidade e dignidade dos artistas e suas famílias, o que hoje chamamos de economia criativa. Uma brava senhora que via nossa escola como um belo jardim que cada vez mais floresce”, finaliza Júlio César.