Sara Vargas
Graduada em Direito, especialista em Terapia Familiar Sistêmica Construtivista e Psicodramática
“Cada história é rica, cheia de retas e curvas, vales e montes.”
Saúde mental e adoção
Como apoiar mães na chegada de um novo filho
Todo filho deve chegar como fruto de uma gestação, inclusive os adotivos. É na gestação que se dá o período de pré-natal, onde várias ações são realizadas buscando o desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante. Na adoção não é diferente.
O pré-natal adotivo deve ser bem aproveitado pelos pais para lançarem um olhar mais profundo para si mesmos, avaliarem suas motivações quanto a ter este filho, fazerem um bom preparo para a adoção por meio de cursos, leituras, palestras, podcasts. Assim como a gestante precisa cuidar da alma, do corpo e do espírito, os pais adotivos não fogem a esta regra.
O tempo de cada gestação adotiva é incerto, mas é o momento ideal para se conhecer melhor, se preparar e poupar energia para controlar os impulsos e atitudes. Quanto mais os pais conversarem sobre a forma de educar, identificando seus principais valores, prospectando o lidar com situações adversas que chegarão para a criança, maior será a sintonia entre eles.
Quando, enfim, chegar o tão desejado “trabalho de parto”, as emoções virão a mil, tanto para a mãe, quanto para a criança. Depois da chegada da criança, é preciso entender que a construção dos vínculos começa na fase de adaptação e exige cuidados antes de exibi-lo. E, até mesmo a relação com os familiares deve ser ponderada.
Contar com o suporte de um grupo de apoio à adoção ajuda muito e provisiona um espaço onde a nova família se sinta compreendida e orientada.
A criança, ainda que seja um bebê, chega com as marcas da sua história. Mesmo o que foi vivenciado durante a vida intrauterina pode impactar no desenvolvimento global da criança. Os traumas interpessoais, como as violências, abandono, rompimento de vínculos ou abusos tem a capacidade de afetar o desenvolvimento cerebral, fisiológico, biológico, os comportamentos e o sistema de crenças dos nossos pequenos.
A criança precisa se sentir preciosa, pertencente e segura. Parece simples, mas isso leva tempo e requer pais intencionalmente presentes. As comparações entre irmãos, filhos de amigos ou primos que tenham a mesma idade do recém-chegado são absolutamente injustas e desapropriadas, pois cada um tem o seu ritmo de desenvolvimento e suas vivências interferem nisso.
Muitas vezes a família não irá compreender alguns comportamentos dos filhos; nem mesmo a sociedade ou a escola. Por isso, o preparo para a adoção e o acompanhamento no pós-adoção é imprescindível para mitigar as desistências ou relacionamentos familiares disfuncionais.
Em alguns momentos, tudo pode parecer muito árido, mas com amor, perseverança, esperança, fé e apoio, o florescer acontece. Nada é mais restaurador para uma criança ou um adolescente que foi ferido por relacionamentos do que novos relacionamentos.