Quando eu envelhecer

“Quando eu envelhecer…

Não serei aquela pessoa que todos esperam.

Transgredirei.

Não por rebeldia; por aventura.

Serei mais leve.

Talvez até mais solta.

 

Quando eu envelhecer…

Incentivarei a gentileza.

Transbordarei em emoções.

Causarei.

Porque a oportunidade de mudar é um desafio.

E mesmo na velhice vale muito a pena.

 

Quando eu envelhecer…

Não temerei as rugas, nem os cabelos brancos.

Cada coisa terá o peso exato – nem mais, nem menos.

Cada episódio terá o tempo merecido.

Cada encontro, a duração de um sorriso.

Cada dia, uma nova celebração.

 

Quando eu envelhecer…

Sonharei nas asas da imaginação.

Utopias, claro.

Incentivarei a verdade.

Que na brevidade da vida, o tempo mostra a sua pressa.

Deixando espaço para os sonhos e as ternas fantasias.

 

Quando eu envelhecer…

O meu requinte maior será a simplicidade.

Apreciarei as coisas, os lugares, os muitos detalhes.

Nas praças, descansarei.

Observarei alguns passantes e me doarei a outros.

Em outros espaços, me entregarei aos devaneios.

 

Quando eu envelhecer…

Serei amante da vida, do restinho dela.

Um dia, algumas semanas, meses, décadas.

Lerei muitos livros de uma só vez.

Das várias histórias em curso, escolherei a melhor.

Terei com ela o tempo da curiosidade.

 

Quando eu envelhecer…

A família continuará nas minhas melhores intenções.

Aproveitarei o céu, as nuvens, as flores.

Fugirei do desamor.

O amor é um enigma da beleza:

Encanta.

Desarma.

Ilude.

Quando eu envelhecer…

Tomarei sorvete, sem culpa: bolas grandes e coloridas.

No verão, bem gelado; no inverno, derretido e espumante.

Reunirei amigas com mais frequência.

Com elas a frugalidade será pauta constante.

A prosa será leve – regada por um bom café.

 

Quando eu envelhecer…

Madrugarei para aproveitar melhor o dia.

Dormirei tarde para contemplar as estrelas e a escuridão.

Aceitarei todos os convites, principalmente os inesperados.

Terei na memória as minhas acertadas escolhas.

Farei das lembranças o meu melhor presente.

 

Quando eu envelhecer…

Serei diferente.

Nas horas de fúria, lançarei um olhar manso.

Haverá sempre um silêncio.

Silêncio que preenche e responde.

Vestirei tons claros, para realçar a alma.

Usarei chapéu para fugir do lugar comum.

 

Quando eu envelhecer…

Não perderei a oportunidade de sorrir.

Livre, sairei a bailar pelas ruas.

Com quem?

Comigo mesma.

Viverei ali o tempo da felicidade…

De mim. De mim mesma.”

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