Controle financeiro em momento de instabilidade é essencial para evitar outros problemas
O Coronavírus é uma realidade que transformou drasticamente a nossa realidade, o nosso cotidiano e as nossas relações interpessoais. Em consequência da pandemia, tivemos que mudar a forma como trabalhamos, consumimos e convivemos em sociedade. O isolamento social se fez necessário para conter o avanço da doença e não sobrecarregar ainda mais o nosso sistema de saúde. São tempos difíceis, que exigem esforços individuais e coletivos. Nos condomínios, que nunca estiveram tão povoados por causa da quarentena, síndico e moradores precisam adotar medidas preventivas para que a convivência seja segura e o contágio, controlado.
Enquanto os condôminos se resguardam dentro de seus lares, o síndico precisa tomar decisões rápidas e assertivas para evitar aglomerações, garantir a correta higienização de ambientes e superfícies, preservar a segurança de seus funcionários e zelar pelas contas do condomínio. O controle financeiro nesse momento de instabilidade econômica é basilar para a comunidade condominial, já que o aumento de pessoas dentro de suas unidades reverbera no aumento do consumo de água, gás e energia, assim como da produção de lixo, sujeira, barulho e conflitos.
Além de cortar gastos extraordinários, o síndico precisa monitorar de perto o aumento inesperado das despesas ordinárias. Para complicar ainda mais o desafio de gerir despesas básicas essenciais e de ordem sanitária, o síndico também sofre pressões por uma grande parcela de moradores que, por falta de conhecimento, acredita ser possível suspender o pagamento da taxa condominial temporariamente e sobreviver do fundo de reserva. Esse pensamento extremamente equivocado gera fortes quedas de arrecadação e casos de inadimplência.
Condomínio sem dinheiro, realidade caótica
Por isso é tão importante que todos tenham em mente que a cota condominial é um rateio de despesas sem fins lucrativos e seu pagamento é uma obrigação legal que, quando desonrada, coloca em risco a segurança, a salubridade e os recursos básicos para o funcionamento do empreendimento. É por meio desse pagamento que o condomínio consegue pagar pela prestação de serviços de limpeza e conservação das áreas comuns, manutenção e conservação das instalações hidráulicas, elétricas, mecânicas e de segurança, despesas com funcionários ou administradoras, consumo de água, esgoto, gás, luz e demais contas essenciais.
Nossa recomendação é que o síndico elabore um plano de contingência baseada na previsão orçamentária. Essa é a hora de avaliar as contas, pausar obras e reformas, rever contratos, negociar com fornecedores, conscientizar condôminos sobre a moderação no consumo e principalmente, a importância de priorizar o pagamento da taxa de condomínio sobre as demais dívidas mensais. É claro que deve existir empatia com a situação de alguns inadimplentes, visto que milhares de pessoas estão endividadas e perdendo seus empregos para o COVID-19. Uma opção para ajudar esse grupo é criar formas de facilitar o pagamento, seja através de parcelamentos ou ampliação do prazo de quitação. O importante é certificar entradas no caixa do condomínio.
Por mais difícil que seja é preciso enxergar a oportunidade por trás da crise. Diante da dificuldade é que fica mais claro para o síndico as deficiências que precisam ser resolvidas de imediato, os processos que precisam ser redefinidos e as ações futuras que precisam ser adotadas para que o fundo de reserva fique sempre positivo, afinal, situações como essa são imprevisíveis. Condomínios são, acima de tudo, a extensão de muitos lares. Blindar patrimônios é uma missão árdua e heroica.
Mariana Fonseca Ribeiro Davi Pena | Graduada em Direito, Ciências Contábeis e Administração de Negócios. Especialista em gestão de imóveis e educação financeira para condomínios. Sócia e diretora financeira do Grupo Soberana.