O acordo Mercosul-União Europeia: o futuro da integração em jogo

Fonte imagem: Governo Federal.

Após mais de duas décadas de negociações arrastadas, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) chegou a um ponto de ruptura ou consolidação definitiva. Considerado um dos maiores tratados de livre comércio do mundo, ele não é apenas uma troca de mercadorias, mas um reposicionamento geopolítico estratégico para ambos os blocos.

O tratado visa criar uma área de livre comércio que abrange cerca de 780 milhões de pessoas e representa cerca de 20% do PIB global. A proposta é eliminar tarifas de importação para mais de 90% dos bens comercializados entre os dois blocos, facilitando o fluxo de produtos industriais e agrícolas.

O acordo se sustenta em três pilares fundamentais:

  • Comércio de Bens: Redução gradual de tarifas para produtos como automóveis e máquinas (da UE para o Mercosul) e carnes, açúcar e suco de laranja (do Mercosul para a UE).

  • Compras Governamentais: Permite que empresas de um bloco participem de licitações públicas no outro, abrindo um mercado bilionário para prestação de serviços e obras.

  • Indicações Geográficas: Proteção de nomes de produtos específicos (ex: Queijo Roquefort da França ou Cachaça do Brasil), garantindo que apenas os originais usem tais denominações.

  • Protocolos Ambientais: Exigências rigorosas de sustentabilidade, baseadas no Acordo de Paris, para garantir que o comércio não impulsione o desmatamento.

Apesar do otimismo de países como Alemanha e Espanha, o acordo enfrenta uma barreira política feroz liderada pela França e pela Polônia. Recentemente, a Itália e a Hungria também sinalizaram alinhamento com esse grupo crítico.

  • O Fator Agrícola (Protecionismo): O principal motivo é a pressão dos agricultores europeus. Eles temem não conseguir competir com a escala e os custos menores da agropecuária sul-americana. Argumentam que as exigências ambientais e sanitárias no Mercosul são menos rígidas, o que geraria uma “concorrência desleal”.

  • Pressão Interna: Na França, o setor agrícola possui um peso político histórico imenso. O governo de Emmanuel Macron teme que a ratificação do acordo provoque protestos em massa e fortaleça a oposição.

A estrutura de decisão no Conselho Europeu é o grande entrave. Se a França, a Polônia, a Hungria e a Itália votarem juntas contra o acordo, elas possuem peso demográfico e político suficiente para formar uma “minoria de bloqueio”. Isso significa que, mesmo que a maioria dos 27 países da UE seja a favor, o trio pode impedir a ratificação do tratado.

Se o acordo fracassar agora, o Mercosul tende a buscar laços ainda mais estreitos com a China, diminuindo a influência europeia na América Latina. Para o Brasil e seus vizinhos, o fim do tratado representaria a perda de uma oportunidade histórica de modernização industrial e acesso a um mercado de alto poder aquisitivo. Segue, breve resumo das principais perdas para o Brasil, caso o acordo não seja assinado.

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