
O Rio de Janeiro amanheceu nesta quarta-feira (29) em clima de tensão, medo e indignação após a megaoperação policial que deixou pelo menos 132 mortos nas comunidades do Complexo da Penha e do Alemão, na Zona Norte. A ação, considerada a mais violenta já registrada no estado, mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil, Militar e Federal e resultou em confrontos intensos durante mais de 36 horas.
Segundo informações da Reuters e da Folha de S. Paulo, moradores relatam presença contínua de forças de segurança nas ruas e dificuldade de acesso a serviços básicos. Escolas e postos de saúde seguem fechados, e parte do comércio local permanece de portas abaixadas por medo de novos confrontos. “A sensação é de que a guerra ainda não acabou”, disse um morador à agência internacional.
A operação foi justificada pelo governo estadual como parte de um “plano integrado de combate ao narcoterrorismo” contra o grupo criminoso Comando Vermelho. O governador Cláudio Castro afirmou que a ação foi necessária e que o estado “não recuará diante do crime organizado”. No entanto, entidades de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, criticaram o que chamaram de “execuções extrajudiciais em massa”.
O Ministério Público Federal anunciou a abertura de um inquérito para apurar possíveis abusos e irregularidades durante a operação. A Defensoria Pública do Estado também confirmou que recebeu dezenas de denúncias de invasões domiciliares e mortes sem identificação formal.
Enquanto isso, organizações civis e religiosos realizam vigílias em memória das vítimas. Em frente à Igreja da Penha, centenas de pessoas acenderam velas e pediram justiça. O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, afirmou em nota que “nenhum combate ao crime pode justificar a perda de tantas vidas”.
O episódio reacende o debate sobre a segurança pública no Brasil e o modelo de enfrentamento armado adotado nas favelas cariocas. Especialistas em segurança e direitos humanos alertam que, sem políticas sociais e estratégias de inteligência, as ações tendem a gerar apenas mais violência e desconfiança entre população e Estado.

