Imagem: Brasil de Fato (2024)
A nomeação de Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência levanta uma questão central para o governo Lula: ele ganha ou perde com a chegada de uma das figuras mais polarizadoras da esquerda radical ao Palácio do Planalto? A resposta não é simples e depende diretamente da capacidade de Boulos em conciliar sua base histórica, ligada ao MTST, com a disciplina fiscal que o Brasil exige. Politicamente, Lula ganha ao energizar a militância e reforçar o diálogo com os movimentos sociais, missão principal da pasta, mas o custo econômico e de imagem pode ser alto. A indicação sinaliza que o governo priorizará as bases populares, mas isso pode tensionar a relação com o Congresso e com o mercado financeiro.
A principal preocupação do mercado é o impacto da ideologia de Boulos sobre a política fiscal. Investidores e analistas temem que a prioridade em “colocar o governo na rua” (como o novo ministro declarou) se traduza em um aumento da pressão por gastos sociais desvinculados de metas fiscais sólidas. Em um momento em que o Brasil paga juros exorbitantes devido a um “paciente fiscal” preocupante, qualquer sinal de afrouxamento no controle de despesas pode elevar o prêmio de risco, exigindo do Banco Central a manutenção da Selic alta. A indicação de Boulos, portanto, atua como um fator de estresse para a credibilidade econômica, potencialmente afastando o capital que busca estabilidade.
No entanto, há um lado da moeda que pode ser positivo para a economia real. A Secretaria-Geral é a pasta de articulação com os movimentos sociais, e Boulos tem o capital político para traduzir as demandas sociais em programas de governo eficientes. Um diálogo mais direto com as bases pode otimizar a implementação de políticas públicas, como o acesso à moradia e a investimentos em infraestrutura social, gerando empregos e injetando demanda na ponta da pirâmide. O desafio, contudo, é garantir que esses investimentos sejam feitos com eficiência e responsabilidade fiscal. Se Boulos conseguir transformar a mobilização social em aumento de produtividade e não apenas em aumento de gasto, a indicação pode, no longo prazo, beneficiar a economia, aproximando o governo de um eleitorado que precisa de resultados concretos. Lula aposta alto, equilibrando a popularidade com a austeridade exigida pelos números.
Diante do choque entre a agenda dos movimentos sociais e a disciplina fiscal, o novo ministro conseguirá entregar ‘resultado na rua’ sem desequilibrar as contas públicas? Com o mercado financeiro em alerta, o governo conseguirá provar que a prioridade social de Boulos pode, de fato, se traduzir em crescimento econômico sustentável?