Suicídio de Crianças e Adolescentes

Falar sobre suicídio ainda é um grande tabu em nossa sociedade. Mas é necessário conversar sobre isso.
Segundo o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, entre 2012 e 2021 o Brasil registrou 9.954 mortes por suicídio ou lesões autoprovocadas intencionalmente em crianças e adolescentes. A faixa etária de 15-19 anos foi responsável por 84,29 % desses óbitos (8.391 casos), enquanto dos 10 aos 14 anos foram 1.563 mortes (15,71 %). Além disso, houve um aumento de 40 % na taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes (10-14 anos) no Brasil no período de 2002 a 2012; na adolescência (15-19 anos), o aumento foi de 33,5 % no mesmo intervalo.
Muitas pessoas acreditam que tocar no assunto “pode dar ideias”, quando na verdade o silêncio é que agrava o sofrimento. Outro mito comum é pensar que quem fala em se matar “quer apenas chamar atenção”. Na realidade, a maioria das pessoas que manifesta ideação suicida está pedindo ajuda de forma velada. Também é mito acreditar que apenas quem tem diagnóstico de transtorno mental pode cometer suicídio: todos nós, diante de dores emocionais intoleráveis, podemos ser vulneráveis. Desmistificar essas crenças é o primeiro passo para abrir espaço ao diálogo e oferecer apoio real.

A escuta atenta e sem julgamento é a forma mais poderosa de ajudar. Crianças e adolescentes dão sinais — muitas vezes sutis — de que não estão bem: isolamento, queda no rendimento escolar, mudanças bruscas de humor, falas frequentes sobre morte ou sobre não querer mais viver, automutilações e até a doação de pertences importantes. Reconhecer esses sinais exige sensibilidade e presença. Quando percebemos tais comportamentos, é essencial oferecer acolhimento imediato, evitar minimizar a dor e buscar ajuda especializada. O adulto não precisa ter todas as respostas; precisa, sim, ser ponte para que a criança ou adolescente tenha acesso a profissionais e redes de apoio.

Cuidar de quem sofre profundamente é uma tarefa emocionalmente exigente. Pais, mães, educadores e profissionais de saúde precisam se lembrar de que não estão sozinhos. É fundamental compartilhar a carga com outros adultos de confiança, buscar orientação especializada e manter espaços de autocuidado. Isso pode incluir terapia, atividades de relaxamento, momentos de lazer e práticas de espiritualidade, conforme a fé de cada um. Um cuidador esgotado dificilmente conseguirá oferecer segurança a quem precisa de colo. O cuidado com o outro começa pelo cuidado consigo.

Falar sobre suicídio não é espalhar desesperança: é, ao contrário, abrir portas para a vida. Quando criamos ambientes em que a dor pode ser expressa e legitimada, sem medo e sem estigma, damos às crianças e aos adolescentes a chance de perceber que não estão sozinhos — e que sempre há caminhos de esperança.

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