Segundo especialistas, inflação ainda elevada, juros em altos patamares e um consequente desemprego em tendência de crescimento, pode não trazer um cenário animador para segundo semestre de 2025
De acordo com o Boletim Macrofiscal de julho, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda aumentou, de 2,4% para 2,5%, a estimativa de crescimento da economia brasileira neste ano e reduziu a estimativa da inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5% para 4,9%. Segundo o gestor de investimentos da WFlow, Guilherme Viveiros, apesar das expectativas do governo o cenário pode não ser tão animador para o segundo semestre da economia brasileira.
“O IPCA representa a oscilação do preço dos produtos consumidos pela população com renda de um a 40 salários-mínimos, e em virtude da forte elevação da taxa de juro ocorrida nos últimos 12 meses, vem apresentando sinais de arrefecimento. Mas esse arrefecimento, provocado por elevados juros, adicionado ao tarifaço dos Estados Unidos, deverá provocar uma retração da nossa economia, e uma provável elevação no índice de desemprego de nosso país”, comenta.
Segundo ele, apesar dos sinais positivos na estabilização da SELIC aos 15% ao ano e com projeções demonstrando uma inflação decrescente para o ano de 2025 e 2026, o Brasil tem uma política internacional ainda muito conturbada.
“Trump vem fechando acordos com as principais economias do mundo, mas o Brasil acabou ficando de fora destas negociações, o que acaba trazendo incertezas para economia brasileira. Nos últimos dias, o governo dos Estados Unidos, retirou a taxação de alguns itens, principalmente dos sucos de laranja e aviões, mas manteve a taxação do café e outros itens agrícolas, exigindo cautela por parte do investidor. Em resumo, estamos com uma inflação ainda mais alta, juros em patamares elevados e desemprego com tendência de elevação, um cenário para este segundo semestre não tão animador em nossa economia”, pontua Viveiros.
O especialista explica que ainda não é possível saber se o governo conseguirá negociar as tarifas que permaneceram em vigor, impostas por Trump, o que pode afetar consideravelmente o desempenho da economia brasileira, principalmente no setor agrícola.
“O posicionamento do nosso governo ao longo dos últimos meses, foram de críticas veladas ao governo Trump e uma aproximação aos BRICs. Então apesar de começarmos a mensurar os impactos da taxação, estes impactos poderão ser ainda maiores caso nosso governo não dê o suporte necessário aos empresários mais impactados, que estão mais concentrados no setor agroexportador como exemplo o café e o setor de indústria de máquinas e equipamentos agrícolas. Felizmente os Estados partiram na frente com incentivos fiscais e liberação de crédito”, explica.
Ele pontua ainda que esses efeitos provocarão de imediato uma redução nos preços dos produtos exportados que permaneceram taxados, causando um impacto benéfico à inflação, mas ao custo de uma menor geração de riqueza para o país. “A grande maioria dos produtores não terão tempo suficiente para vender seus produtos a outros mercados internacionais e terão que vender seus produtos internamente à preços mais baixos”, afirma.
PROJEÇÕES PARA 2026
Para 2026, a estimativa de crescimento da economia divulgada pela SEP caiu de 2,5% para 2,4%. Em relação ao IPCA, a projeção continua acima do teto da meta de inflação para o ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%. Já a estimativa de inflação foi mantida em 3,6%.