Conhecida como Mãe Irene, Maria Irene completou 70 anos em março (2023), é natural de Uberlândia, tem três filhas, quatro netos e dois bisnetos. Na década de 60, iniciou os estudos na escola de ensino e alfabetização infantil, Externato Coração de Jesus, fundada pela avó.
Aos 15 anos, começou a lecionar de forma autodidata e ensinava crianças a ler e escrever. “Essas crianças eram filhos dos médiuns e assistentes da Tenda Coração de Jesus, como não tinha lugares para ficar, e ao invés de ficarem na rua, eles vinham para Tenda estudar”, contou Maria Irene.
Quando a escola foi fechada, ela começou a trabalhar como costureira e logo depois, se casou, mas continuou dando seu apoio aos projetos desenvolvidos na Tenda Coração de Jesus ao lado do seu tio Roque, que era o zelador na época.
A sede da Tenda Coração de Jesus foi inaugurada em 1947 e tem quase 76 anos de atividades ininterruptas de caridades, amor e respeito ao próximo. Ela foi erguida com a ajuda de várias pessoas que já simpatizavam com a Umbanda e com a ajuda de muitos voluntários que a seguiam. As mulheres ficavam encarregadas de fazer as quitandas e os homens de construírem a sede do terreiro, esses homens faziam os serviços de pedreiro, carpinteiro e servente.
O terreiro foi construído no meio de dois terrenos comprados pela família e, as outras casas, foram construídas em volta circulando o terreiro. Até hoje, essas construções continuam dispostas da mesma maneira. Foi o primeiro espaço reservado exclusivamente para as práticas umbandistas e aberto ao público.
Na década de 90, assumiu de forma definitiva a função de zeladora (mãe de santo), da TCJ e, desde então, assumiu todas as responsabilidades espirituais e materiais que a casa desenvolvia, como: distribuição de roupas, calçados, cestas básicas, caixas de leite, cobertores e verduras, além do atendimento espiritual feito de forma presencial todas as quartas-feiras, para mais de duzentas pessoas. Todas essas ações ainda são realizadas nos dias de hoje.
Maria Irene enfrentou algumas dificuldades e conta: “Ser mulher já é uma dificuldade, pois somos sempre descredibilizadas. Ser uma mulher negra e da Umbanda é ainda mais difícil, mas eu não me abalo, desenvolvo meu trabalho, cuido dos meus e da minha comunidade porque eles têm em mim o maior símbolo do feminino que é a maternidade. Meu pai Oxalá me deu mais de 200 filhos que eu cuido com muito amor e dedicação e sei de perto o que cada um deles precisa.”
O título de Mulher Soberana foi motivo de honra para Maria Irene, que se emociona e diz: “É o reconhecimento de um trabalho o que me deixou muito feliz, pois indica que estou no caminho certo.”
Inspire-se:
“A mulher cuida, zela e ama de forma ampla, por isso consegue costurar todas as pontas soltas para que tudo se desenrole da melhor maneira possível. Façam tudo na vida de vocês com muito amor e dedicação, e assim, nada dará errado.” Mãe Irene