A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre a maior parte dos produtos químicos importados do Brasil gerou forte reação do setor industrial. A medida, que passa a valer em 6 de agosto, foi anunciada como parte de uma estratégia comercial da atual gestão americana e já é tratada como um risco concreto de prejuízos bilionários, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Em nota oficial enviada à imprensa, a Abiquim afirmou que as exportações brasileiras de produtos químicos aos EUA somaram US$ 2,4 bilhões em 2024, e que até US$ 1,7 bilhão em vendas podem ser diretamente impactados pela tarifa. “A medida compromete a competitividade da indústria brasileira e ameaça postos de trabalho em diversos segmentos da cadeia produtiva”, afirmou a entidade.
A agência Reuters informou que a reação de grandes exportadores do setor foi imediata. Algumas empresas já relataram o cancelamento de pedidos por parte de compradores norte-americanos, principalmente nos segmentos de solventes industriais, resinas e fertilizantes. A agência destacou ainda que o déficit da balança comercial brasileira no setor químico foi de US$ 8 bilhões em 2024, o que tende a se aprofundar com as novas barreiras.
De acordo com a ICIS – Independent Commodity Intelligence Services, multinacionais como Braskem, Oxiteno e Unigel avaliam a possibilidade de redirecionar parte da produção a outros mercados ou mesmo suspender temporariamente linhas de produção destinadas ao mercado norte-americano. A ICIS também destacou que, apesar de alguns produtos estratégicos – como alumina calcinada e clorados industriais – estarem isentos da tarifa, eles representam apenas cerca de 30% do total exportado.
O presidente da Abiquim, André Passos Cordeiro, declarou à CNN Brasil que os impactos não se restringem ao setor químico. “Essa medida terá efeitos em toda a indústria brasileira, afetando cadeias como papel e celulose, cosméticos, alimentos, bebidas, embalagens e produtos de limpeza. É um efeito dominó que compromete a indústria nacional”, disse.
O governo brasileiro, por meio de técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), informou à Reuters que avalia abrir consulta formal junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e estuda eventuais medidas compensatórias. Internamente, discute-se a criação de linhas emergenciais de crédito e estratégias para ampliar exportações a outros mercados.
O cenário também acirra a tensão diplomática entre os dois países, que se intensificou após o Departamento do Tesouro dos EUA impor sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em julho. Segundo a própria Reuters, o clima é de “desgaste crescente” entre Brasília e Washington, o que pode dificultar tratativas bilaterais para reverter a tarifa.
Estudos internos da Abiquim, divulgados à ICIS, indicam que os prejuízos ao setor químico brasileiro podem ultrapassar US$ 2 bilhões ainda em 2025. A entidade estima impacto no Produto Interno Bruto (PIB) de até 0,2% e risco para mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país.
A Abiquim segue pressionando o Congresso e o Executivo por ações concretas, incluindo a aceleração de acordos comerciais com a União Europeia e países da Ásia-Pacífico como alternativa à dependência do mercado norte-americano.