Possível recessão nos EUA acende alerta global

Donald Trump, presidente dos EUA – Foto: Jim Watson/AFP

 

A economia dos Estados Unidos, historicamente um termômetro para os mercados globais, voltou a ser motivo de preocupação. Nos últimos dias, o temor de uma possível recessão ganhou força diante da queda nos índices acionários e sinais de desaceleração em alguns setores-chave da maior economia do mundo.

O presidente Donald Trump, empossado em janeiro, tem adotado uma série de medidas econômicas de impacto. Entre elas, estão a imposição de tarifas adicionais sobre importações de países como China, Canadá e México, além do anúncio de cortes no setor público com a justificativa de enxugar os gastos do governo.

 

Durante entrevista recente à Fox News, Trump declarou que não descarta a possibilidade de o país entrar em um “período de transição”, aumentando a ansiedade nos mercados e entre os investidores globais.

Embora os Estados Unidos ainda exibam dados positivos em áreas como geração de empregos e consumo

, o ambiente de incerteza começa a pesar sobre decisões de investimento. As novas tarifas, por exemplo, tendem a encarecer produtos importados, afetando a inflação e as cadeias de produção mundiais — um efeito que pode se propagar rapidamente por outros países.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório divulgado nesta segunda-feira (17/03), revisou para baixo suas estimativas de crescimento global. Para este ano, a projeção caiu de 3,3% para 3,1%; para 2026, de 3,3% para 3%. Já para os Estados Unidos, a estimativa de crescimento recuou de 2,4% para 2,2% em 2025, e de 2,1% para 1,6% no ano seguinte.

Impactos no Brasil

As consequências de uma eventual recessão americana podem ser sentidas diretamente no Brasil. Segundo

 

 economistas consultados pela BBC News Brasil, uma desaceleração nos EUA reduziria a demanda global e comprometeria as exportações brasileiras — especialmente de produtos manufaturados, segmento em que os Estados Unidos são o principal destino.

Em 2024, o comércio bilateral entre os dois países somou mais de US$ 40 bilhões em exportações brasileiras, segundo dados da Amcham Brasil. Um enfraquecimento da economia americana poderia significar queda nesse volume, afetando o saldo comercial e a geração de emprego no país.

Além disso, o Brasil poderia enfrentar maior volatilidade nos mercados financeiros. Recentemente, o Ibovespa sentiu os efeitos da instabilidade externa, com quedas expressivas nas ações e valorização do dólar frente ao real.

O economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, afirma que a retração econômica nos EUA impactaria os preços das commodities, principais itens da pauta exportadora brasileira. Isso limitaria os ganhos do agronegócio e da mineração, setores fundamentais para o PIB nacional. Ele também alerta que a combinação de desaceleração global e depreciação do real pode dificultar novos cortes na taxa de juros brasileira.

Exemplo prático: o preço do ovo

Um dos efeitos mais tangíveis da economia americana no cotidiano brasileiro é o recente aumento no preço dos ovos. O valor do produto subiu 15% em fevereiro, segundo dados do IBGE. O motivo? A gripe aviária reduziu a produção nos EUA, levando os americanos a aumentarem suas compras de ovos brasileiros — e pagando mais por isso.

Como explica Gustavo Cruz, da RB Investimentos, o poder de compra americano acaba puxando os preços para cima aqui, mesmo sem relação direta com a inflação interna. Caso os EUA entrem em recessão e reduzam a demanda, os produtores locais poderiam repensar investimentos e expansão, temendo a perda de mercado.

Esse é apenas um exemplo de como a saúde da economia norte-americana repercute no Brasil — e por que o risco de recessão nos EUA deve ser monitorado de perto, por autoridades, empresas e consumidores.

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