Diagnóstico tardio do câncer de pele em idosos pode ser um desafio para a redução da mortalidade

O câncer de pele é uma das condições oncológicas mais comuns no Brasil, representando um desafio significativo para a população idosa. Dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia apontam que mais de 50% das mortes relacionadas ao câncer de pele ocorrem em pessoas com mais de 65 anos, destacando a necessidade de atenção especial a esse grupo etário.

Um estudo recente, intitulado Neoplasia Maligna da Pele em Idosos Brasileiros: Análise Descritiva das Taxas de Morbidade Hospitalar em 2023, revelou importantes dados sobre a incidência do câncer de pele em idosos no Brasil. Entre os resultados, destacou-se que a faixa etária mais afetada foi de 60 a 69 anos (41,65%), seguida por 70 a 79 anos (36,64%). Em termos de gênero, 53,02% dos casos envolveram homens, e 66,58% dos pacientes eram brancos. Esses dados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e diagnóstico precoce, além de ações educativas específicas para grupos mais vulneráveis.

Fatores que dificultam o diagnóstico precoce

Entre os principais obstáculos ao diagnóstico precoce em idosos, estão as características específicas das lesões e as limitações associadas ao envelhecimento. O melanoma, por exemplo, pode apresentar um crescimento lento e uma aparência benigna, especialmente em pessoas mais velhas. Em alguns casos, essas lesões assumem a forma de manchas na face, confundindo-se com alterações comuns da pele envelhecida. Há também melanomas mais agressivos que surgem como lesões rosadas ou inofensivas, dificultando ainda mais sua identificação.

Além disso, fatores como deficiência visual, dificuldades de mobilidade e limitações para realizar o autoexame contribuem para o diagnóstico tardio. Essas dificuldades são agravadas pelo isolamento social de muitos idosos, que vivem sozinhos ou em instituições, o que dificulta a observação e a notificação de lesões suspeitas.

Estratégias para detecção e monitoramento

A consulta regular com dermatologistas, especialmente por meio de dermatoscopias anuais, é uma recomendação importante para idosos com histórico familiar de câncer de pele ou características de risco. A observação de mudanças em lesões pré-existentes, como alterações de cor, tamanho ou bordas, também é essencial.

De acordo com a oncologista Dra. Nathália Naves, do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, as consultas periódicas com especialistas podem evitar que lesões alcancem estágios avançados, quando os tratamentos se tornam mais complexos. Ela enfatiza que o acompanhamento regular, aliado à conscientização de familiares e cuidadores, pode ser crucial para o diagnóstico precoce.

Tratamento e cuidados multidisciplinares

O tratamento do câncer de pele varia conforme o estágio da doença. Em casos precoces, a cirurgia pode oferecer alta taxa de cura, com recuperação mais rápida e menos invasiva. Em estágios avançados, terapias como imunoterapia e terapias-alvo podem ser eficazes, mas demandam monitoramento cuidadoso, devido às condições de saúde geral dos pacientes idosos. “Carcinomas basocelular e espinocelular da pele raramente dão metástase, mas podem se infiltrar localmente, causando dor, infecção e outros sintomas. Já o melanoma tem maior potencial de metástase”, alerta a oncologista.

O papel do geriatra é fundamental na preparação de idosos para procedimentos invasivos, como explicou o Dr. Marcos Alvinair, da Linha de Cuidado do Idoso do Hospital Mater Dei Santa Genoveva. Essa preparação inclui avaliar riscos cirúrgicos, ajustar medicações e otimizar a saúde global do paciente. Ele destaca que o esclarecimento sobre os riscos e benefícios é essencial, tanto para o idoso quanto para seus familiares.

Aderência ao acompanhamento e ao autoexame

A adesão ao acompanhamento regular pode ser incentivada por meio de orientações claras e envolvimento ativo de cuidadores e familiares. Durante consultas, médicos podem realizar avaliações gerais da pele e reforçar a importância do autoexame, especialmente após o banho, momento em que lesões em áreas mais visíveis podem ser identificadas. “Nós recomendamos sempre que os cuidadores e/ou os próprios pacientes olhem para a sua pele em busca de lesões de risco, principalmente nas áreas expostas ao sol. A ceratose actínica, decorrente da exposição solar, se caracteriza por algumas lesões, por manchas que, muitas das vezes, desenvolvem pequenas escaras, cascas ou feridas. Então, o geriatra, como médico que acompanha a saúde geral dos idosos, deve estar sempre fazendo a sua avaliação em consultório, durante a consulta por outras causas”, orienta Alvinair.

Embora o câncer de pele apresente desafios específicos na população idosa, a combinação de diagnóstico precoce, tratamentos adequados e cuidados multidisciplinares pode melhorar significativamente os desfechos clínicos. A conscientização de pacientes, familiares e cuidadores desempenha um papel central nesse processo, reforçando que a idade não deve ser um impeditivo para o tratamento eficaz dessa condição

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