A ludopatia e a oferta de jogos se relacionam. Foi observado em outros países onde aconteceu a liberação do setor. Quanto mais jogos, apostas e publicidade, mais aumenta o estímulo ao consumo destes serviços, impactando o social e a saúde pública.
Ao liberar o jogo, deve-se atentar para o acompanhamento de políticas públicas robustas para prevenir o desenvolvimento do jogo patológico (conceito psiquiátrico explicado no último texto), como programas de conscientização, de apostas, autoexclusão – onde o próprio jogador se bloqueia do acesso a jogos e suporte a tratamentos de dependência.
Além de legislar, o governo deve monitorar continuamente o impacto desta liberação na população e adaptar as regulamentações conforme a necessidade. Protegendo a saúde mental e financeira dos jogadores. Criar parcerias entre o setor de jogos e o sistema de saúde é essencial para financiar programas de tratamento e prevenção para pessoas com transtorno do jogo.
O Jogo é legal nos Estados Unidos onde 1% a 2% da população adulta é considerada jogadora patológica. Quanto maior a disponibilidade do jogo, maior a prevalência do jogo patológico. O risco chega a 5%. Já no Canadá, Austrália e Europa (Reino Unido, Suécia), a prevalência de jogo patológico é similar e é relacionada com a acessibilidade e a variedade de jogos; a regulamentação e programas de prevenção. Em culturas onde o jogo é muito aceito, aumenta-se o risco de ludopatia.
Além destes fatores legais o jogo patológico envolve aspectos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Estudos sugerem que há uma predisposição genética para o desenvolvimento de comportamentos compulsivos, como o jogo patológico. Parentes de primeiro grau com problemas com o jogo ou outros comportamentos aditivos aumentam o risco.
A presença de depressão, ansiedade, transtorno bipolar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade aumentam o risco. Jogadores utilizam o jogo como forma de escapar de emoções negativas. Indivíduos impulsivos têm maior chance de desenvolver transtorno do jogo. Pessoas com baixa autoestima podem ver o jogo como uma forma de ganhar reconhecimento ou melhorar sua imagem.
Além disso, o acesso fácil a cassinos, loterias, apostas esportivas e plataformas de jogos online aumentam o risco de desenvolver vício em jogos. Um ambiente social como este, onde o jogo é aceito ou incentivado, pode aumentar a participação e desenvolvimento de dependência. Jogar em grupo ou ser influenciado por amigos e familiares que jogam também é um fator de risco. Pessoas que começam a jogar muito jovens também tem o risco de desenvolver transtorno do jogo aumentado.
Em algumas culturas, o jogo é muito aceito e incentivado como entretenimento o que propicia o jogo patológico. Em contrapartida, onde o jogo é desaprovado as pessoas tendem a esconder este comportamento, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento, agravando o problema.
Pessoas com problemas financeiros podem ver o jogo como uma maneira de “resolver” suas dificuldades econômicas, tentando obter ganhos rápidos. Isso pode levar a um ciclo de jogo para “recuperar perdas”, agravando o vício. Indivíduos de baixa renda são mais propensos a desenvolver transtorno do jogo, possivelmente em parte devido à percepção de que o jogo pode oferecer uma oportunidade de escapar de sua situação financeira.
Pessoas que experimentam grandes ganhos no início de sua experiência com os jogos podem ser mais propensas a desenvolver vício, pois isso reforça a percepção de que o jogo pode ser uma maneira fácil de ganhar dinheiro. O hábito de jogar regularmente por diversão, especialmente sem controle de gastos ou tempo, pode evoluir para comportamentos mais compulsivos e problemáticos.
Indivíduos que têm ou tiveram vícios em álcool, drogas, ou outras formas de comportamento compulsivo, como comprar ou comer, têm maior risco de desenvolver ludopatia. Eventos traumáticos, como a morte de um ente querido, divórcio, ou perda de emprego, podem levar as pessoas a recorrer ao jogo como uma forma de lidar com o estresse emocional, aumentando o risco de vício.
Jogos como as máquinas caça-níqueis e apostas esportivas, fornecem retorno imediato e repetitivo, tendendo a ser mais viciante. A exposição, a publicidade e promoções que glamorizam o jogo pode incentivar as pessoas a jogarem com mais frequência e aumentar a percepção de que o jogo é uma maneira legítima de melhorar suas condições financeiras.
Ao listar estes fatores, é perceptível que o desenvolvimento do jogo patológico é multifatorial, com interação de aspectos genéticos, psicológicos, sociais e ambientais. Identificar precocemente fatores de risco é importante para a prevenção e o tratamento.
Créditos: Alfredo Demétrio – Psiquiatra e psicoterapeuta
CRM 25646 MG – RQE 19146 – RQE 19385
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