Dados do Instituto Nacional do Câncer mostram que tumores de boca e laringe somam mais de 20 mil novos casos por ano no Brasil
Desde 2017, a campanha Julho Verde chama a atenção para a importância do diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço. A iniciativa tem o propósito de conscientizar a população sobre o problema, disseminando informações sobre prevenção e detecção precoce desses tumores. O objetivo é alcançar tanto o público em geral quanto os profissionais da saúde, que muitas vezes têm dificuldade em reconhecer os sinais da doença.
O câncer de cabeça e pescoço, abrangendo uma ampla gama de locais, incluindo cavidade oral, faringe, laringe, seios paranasais, fossas nasais, glândulas salivares, tireoide e a pele da região, é uma preocupação crescente na oncologia. A detecção precoce desses tumores é vital, pois muitos apresentam sinais clínicos visíveis ou sintomas perceptíveis. “No caso dos tumores intraorais e orofaríngeos, feridas na boca que não cicatrizam, dor ao comer (odinofagia) e dificuldade para engolir (disfagia) são alertas importantes. Da mesma forma, uma dor de ouvido persistente (otalgia) pode indicar a presença de um tumor nessas áreas”, explica a cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, Veruska Tavares Terra Martins da Silva.
A médica esclarece que os tumores de laringe podem ser sinalizados por alterações na voz e rouquidão persistente por mais de 15 dias, enquanto nódulos cervicais podem ser o primeiro indício de um tumor na boca, nasofaringe, hipofaringe ou laringe, representando metástases. Tumores na tireoide, por outro lado, geralmente não apresentam sintomas até que cresçam o suficiente para causar compressão, sendo frequentemente diagnosticados durante exames físicos de rotina. “Lesões irregulares na pele da região da cabeça e pescoço, que não cicatrizam, também são sinais de alerta para possíveis tumores cutâneos. A conscientização e o reconhecimento desses sinais são essenciais para um diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz”, alerta Veruska.
Dados do Instituto Nacional do Câncer mostram que tumores de boca e laringe somam mais de 20.000 novos casos por ano, sendo o terceiro mais comum entre os homens no Brasil (atrás apenas do câncer de próstata e pulmão). Trata-se de um tipo de câncer com significativa mortalidade no país, especialmente porque a maioria dos pacientes já apresenta doença avançada, quando o diagnóstico é feito.
Os principais fatores de risco relacionados a esse tipo de câncer são o tabagismo e o etilismo, mas estima-se que 85% desses tumores estejam ligados ao ato de fumar cigarros. “Outros fatores incluem infecção pelo vírus HPV, traumas bucais crônicos causados por prótese mal adaptada, e exposição solar sem proteção adequada durante anos”, complementa Veruska.
Os sintomas vão depender da localização do tumor primário, podendo se apresentar como rouquidão persistente, aparecimento de feridas na língua (que não cicatrizam), nódulos ou massas no pescoço, dor ou dificuldade para engolir, sangramento persistente no nariz, entre outros. “O diagnóstico precoce é a principal arma para uma resposta completa ao tratamento contra o câncer em geral. No caso dos tumores de cabeça e pescoço, diminui a necessidade de grandes cirurgias e sequelas consequentes a procedimentos, que podem gerar mutilações físicas (estéticas) e funcionais. Tumores pequenos podem ser curados com cirurgias minimamente invasivas e não precisam de tratamento adjuvante”, informa a cirurgiã.
Para a Dra. Veruska, o atendimento primário, seja pelo médico clínico geral e ou pelo dentista, é o mais importante para iniciar todo o processo de diagnóstico da doença. “Uma forma de alertar esses profissionais quanto à suspeita e necessidade de agir rápido são as campanhas públicas e orientação aos sinais de alerta. As campanhas contra tabagismo, por exemplo, orientam sobre o maior risco da doença em pacientes tabagistas e a necessidade de avaliação de rotina no exame físico, incluindo sempre o pescoço e cavidade oral, mesmo em pacientes assintomáticos”, afirma.
Ainda de acordo com a médica, a cirurgia, sempre que possível, é o tratamento mais recomendado. Já a Radioterapia e a Quimioterapia podem ser indicadas como tratamento inicial ou adjuvante, após a cirurgia. Para os tumores de tireoide, além da cirurgia, pode ser indicado também, como tratamento complementar, o iodo radioativo.