Um recente estudo realizado em Portugal pela Associação Saúde das Mães Negras e Racializadas em Portugal (Samanepor), destacou preocupantes índices de violência obstétrica sofrida por mulheres negras e afrodescendentes durante a gravidez e o parto. Esta pesquisa, conduzida em parceria com o Foco Saúde, referência em saúde em Angola, revelou que mais de um quinto das mulheres negras inquiridas afirmou ter vivenciado situações de violência obstétrica, frequentemente associadas à raça, idade e condição social.
O estudo mostrou que, apesar da maioria das inquiridas ter relatado sentimentos positivos durante a gravidez, aproximadamente 10,7% delas não se sentiram respeitadas pelos profissionais de saúde durante a gestação, enquanto cerca de 33,5% se sentiram humilhadas e 41,1% negligenciadas.
De forma alarmante, 21,4% das mulheres inquiridas afirmaram ter sido vítimas de “violência obstétrica relacionada com questões de raça/etnia, idade, condição social ou outros fatores” durante a gestação. Esses números refletem o impacto negativo de estereótipos e preconceitos arraigados na sociedade.
O estudo também revelou que a violência obstétrica persistiu durante o parto, com 23,4% das mulheres inquiridas sentindo-se negligenciadas, 19,7% relatando falta de respeito e 17% afirmando terem sido humilhadas. Nesse contexto, 24% das participantes do estudo relataram ter sofrido violência obstétrica relacionada a questões de raça, etnia, idade ou condição social durante o parto.
Embora muitas das mulheres inquiridas possuam ensino superior completo (60,8%) e empregos formais (83,5%), os resultados indicam que houve falta de informação sobre as opções de tipos de parto para metade delas. Além disso, a maioria não foi questionada sobre a posição de parto de sua escolha, e 84,4% não tiveram um acompanhante de sua escolha em algum momento do trabalho de parto.
O neurocientista brasileiro, Fabiano de Abreu Agrela, PhD em Neurociências e representante do Foco Saúde para lusofonia, da Câmara do Comércio portuguesa e da Casa do Brasil, Terras de Cabral, enfatiza a importância do bem-estar da mãe para o neurodesenvolvimento do filho. Ele enfatiza que, para além das considerações humanitárias evidentes, a falta de preparo demonstrada por alguns profissionais de saúde durante a gestação e o parto pode ter consequências profundas, “O correto cuidado e manutenção da homeostase materna se refletem em crianças saudáveis, enquanto problemas durante esse período resultam em maiores custos públicos e podem prejudicar o desenvolvimento da nação”, afirma Agrela.
O estudo destaca a necessidade de conscientização e ação para garantir um tratamento igualitário e respeitoso durante a gravidez e o parto, independentemente da origem étnica ou social das mulheres