Ex-jogadora concedeu uma entrevista exclusiva a Revista Soberana na 13ª edição
Walewska Oliveira, ex-jogadora da Seleção Brasileira de Vôlei, do Minas e do Praia Clube de Uberlândia, morreu nesta quinta-feira (21), aos 43 anos.
A ex-atleta, que conquistou a Superliga de Vôlei na temporada 2017/2018 pelo Praia Clube, também foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Sydney, em 2000. E foi pela equipe mineira que Walewska se despediu das quadras, em 2022.
Seu último jogo pela equipe foi a final contra o Minas. Na ocasião, a campeã olímpica recebeu uma homenagem da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
Com a Seleção Brasileira, Walewska também conquistou três títulos do Grand Prix, os Jogos Pan-Americanos e a Copa das Campeões.
Relembre a reportagem especial sobre Walewska, publicada na 13ª edição da Revista Soberana:
Disciplinada, inteligente e forte. Esses são alguns dos vários adjetivos que podemos definir Walewska Moreira de Oliveira, ou simplesmente Walewska. A mineira que encantou o Brasil e o mundo com seu volleyball de sucesso. Central de 1,90 m, aguerrida que sempre pede a bola no 24, conquistou além de títulos, pessoas que convivem e torcem por ela.
Em seu documentário “O último ato”, Walewska define seus 30 anos no esporte como “maravilhosos”. A atleta comenta que ao longo de sua trajetória esportiva, ela foi compreendendo cada momento vivenciado por ela e que contou com a sorte de encontrar as pessoas certas que auxiliaram no seu crescimento!
Nascida em BH, Walewska, teve grande incentivo por parte de seu pai na prática de esportes. Ela lembra que o grande lema da família era “Estudar e sempre praticar o esporte”.
Segundo Walewska, em 1992 quando estudava no Colégio Kennedy, em BH, admirava o trabalho de seu então professor de Educação Física: Heron Brito. Nessa época, Walewska gostava de praticar todos os esportes.
Quando mais jovem, Walewska jogava vôlei na rua com seus vizinhos e amigos, mas, seu pai, preocupado com sua integridade, devido ao perigo de praticar esportes na rua, procurou um clube para Walewska jogar bola, com disciplina e instrução de um professor. Um dia, andando pelo bairro, na porta de um supermercado pegou um panfleto de uma “escola de vôlei”. Novamente seu pai incentivou a filha e partir daí ela começou a treinar vôlei numa escola.
Beto Ferraz, professor de Vôlei dessa escola já destacava que ela é “Diferenciada pela altura”. O professor de educação física, Heron Brito viu potencial que poderia ser desenvolvido, e tinha um contato com Minas Tênis Clube e queria muito levar essa joia ao clube.
O pai, no primeiro momento ficou receoso, porém aceitou essa nova etapa de aprendizagem para a filha. Ao chegar no Minas Tênis Clube, Walewska foi apresentada para a Professora Yara Ribas que logo de cara gostou muito do porte físico dela: “Wal tem biotipo privilegiado para o Volleyball”.
Walewska foi fazer um teste para jogar no Minas Tênis Clube com uma amiga e acabou sendo aprovada passando a treinar profissionalmente no Minas. Sua mãe, Maria Aparecida, a acompanhava na ida aos treinos e um certo dia, ela pediu para que Walewska observasse os detalhes da viagem, a partir desse momento, Wal, foi conquistando sua autonomia e responsabilidade para ir sozinha aos treinamentos no ginásio do Minas.
Walewska estudava no ensino médio em um dos melhores colégios de Belo Horizonte. No entanto a sua mãe foi chamada porque estava difícil conciliar vôlei e ensino. Foi uma decisão muito difícil, mas Walewska e sua mãe escolheram o vôlei. Walewska destaca que “essa decisão me dá uma responsabilidade a mais. Não estudar e realmente dar certo no vôlei”.
Walewska desenhou sua carreira de forma muito natural, jogando no Minas Tênis Clube, recebeu convocações para a Seleção Brasileira Juvenil. Até que um dia Bernadinho ligou para Walewska e a convidou para ir jogar no Rexona/Curitiba. Walewska ficou em êxtase, e não importava quanto ia ganhar, e sim a oportunidade de jogar com um grande treinador. Wal passou a integrar o time do Rexona/Curitiba. Bernadinho exigia de suas atletas 120% todos os dias.
A 1ª convocação, para a Seleção Brasileira foi aos 17 anos quando foi convidada para integrar a comissão de um amistoso contra o Japão. Foi um momento único, mágico e inesquecível.
Walewska disputou as XXVII Olimpíadas de Sydney em 2000 e lembra que na época “Responsabilidade de ser titular, mas a curiosidade de sentir sensações”. Ela jogava com atletas muito mais experientes que ela.
Em 2003, José Roberto Guimarães assumiu a Seleção brasileira de vôlei feminino e começou a preparação para olimpíadas de 2004 – Athenas, como o tempo era escasso, a preparação precisou ser acelerada.
Wal conheceu Ricardo Mendes, seu marido. A jogadora de Vôlei, Virna apresentou e uniu o casal. Mendes, era personal trainer e desde o início tinha certeza de que estaria do lado de Walewska por muitos e muitos anos.
Durante a preparação para Olimpíadas de 2004, após ter sido constatada uma lesão no joelho, possivelmente provocada de um desgaste de sobrecarga de treinamento, Wal começou uma luta para voltar jogar em alta performance. Nessa época, o preparador físico da seleção brasileira e Ricardo Regis, fisioterapeuta se uniram para tratar essa lesão. Walewska usou do Pilates e Piscina para o tratamento da lesão.
Em 2004 ocorreu a XXVIII Olimpíadas de Athenas, que foi marcada para sempre na história da seleção brasileira de vôlei feminina. Era a 2ª Olimpíada de Walewska. Na semifinal tivemos Brasil X Rússia e a seleção brasileira teve uma oportunidade de ir para final com um placar 24 X 19, mas a nossa seleção perdeu 7 matches points e as Russas foram para cima e o placar virou. Brasil fora da final das Olimpíadas de Athenas.
No mesmo ano do fatídico jogo contra a Rússia, Walewska recebeu um convite para jogar na Itália, com apoio de seu marido Ricardo e com a mentoria de José Elias que acompanhou Wal na sua nova jornada.
Em 2007 Walewska recebe uma proposta muito boa para jogar na Espanha, no 1º ano deu tudo certo, mas depois o time aplicou um calote nas jogadoras, entretanto, mesmo com dificuldades, Walewska não saiu do time e conquistou campeonato pelo clube espanhol.
Em 2008 foi o ano das XXIX Olimpíadas de Pequim. A preparação da seleção brasileira foi sofrida e desgastante. Após sofrer com a derrota dolorida na Olimpíada de 2004, o time, incluindo Walewska, se entregou à preparação física, com comprometimento e postura. O resultado de tanto trabalho, não poderia ter sido diferente. O título olímpico veio para o Brasil, por meio da seleção feminina de vôlei, resultado do trabalho árduo e dedicação de cada jogadora e dos membros da equipe.
Em 2008 após ser campeã olímpica, Ricardo Mendes, seu esposo e empresário, recebeu um convite para Wal jogar na Rússia, ele fez várias exigências a fim de não aceitarem a proposta, entretanto, os Russos aceitaram. Walewska foi jogar no Odintsovo.
Jogar fora do Brasil foi muito bom e ela chegou à conclusão de que não tinha condição de conciliar jogar na seleção brasileira, jogar em seu atual time, viver em família, dar atenção aos amigos, conciliar a vida com o marido e diante de tudo isso, tomou a melhor decisão para ela: deixar a seleção brasileira em 2008.
Walewska ressignifica o conceito de Mulher Íntegra, meses antes da olimpíada de Londres, o técnico da seleção ligou convidando para jogar as olimpíadas, mas ela não queria tirar o sonho olímpico de uma atleta que havia se preparado num ciclo olímpico.
A vida tentou surpreender Walewska, durante uma pré-temporada ela descobriu um Câncer na tireoide. Durante um exame de rotina, ela realizou a biópsia e teve que realizar uma cirurgia uma semana depois. Entretanto na sua visão, de tudo nessa vida, se tira um aprendizado. Ao vencer o câncer, Walewska percebeu que sempre é necessário pensar no dia de amanhã.
Walewska construiu sua carreira com luta, foco e determinação. Ela abriu mãos de vários momentos em família e com amigos. Inclusive, ela revelou recentemente, que não viu o seu irmão, três anos mais novo, mudar de voz. Uma fase que pode ser insignificante para as pessoas, mas que, para ela dói até hoje.
Walewska é uma mulher de ouro, foi considerada a melhor bloqueadora do mundo pelo Grand Prix em 2008, mesmo ano em que trouxe a medalha olímpica de ouro de Pequim. Walewska se despediu das quadras jogando pelo Dentil/Praia Clube, time de Uberlândia, em meados de 2022, local em que foi muito aplaudida, após 30 grandiosos anos dedicados ao esporte, conquistando títulos e deixando sua marca registrada por onde passou.
Walewska concedeu uma entrevista exclusiva para a Revista Soberana, veja abaixo os principais trechos:
RS- Walewska quais são os planos para o futuro?
R: Eu e minha equipe estamos criando uma marca que trará a minha história de 30 anos no esporte, e minha nova vigência para continuar impactando vidas. Minha biografia “Outras Redes”, que acabei de lançar, traz essa reflexão de como estudamos essa nova fase.
RS- Em algum momento você pensou em desistir?
R: Não, o esporte foi a carreira que escolhi aos doze anos de idade, e me dediquei nestes 30 anos. Me permiti, depois dos 40 anos, viver uma nova vida, mas é claro que a transformação requer resiliência. Isso o esporte me ensinou. Trago tudo que vivi e experimentei para essa nova fase. Os ensinamentos que tive nestes anos todos, me ajudaram nessa renovação.
RS- Walewska qual foi a decisão mais difícil que você tomou?
R: Provavelmente algumas decisões que precisei tomar durante a minha caminhada no vôlei. Foram difíceis, mas acertadas. Morei fora do país alguns anos, não pude estar ao lado da minha família em diversas comemorações, e como em qualquer profissão que se dedique, é necessário renunciar a situações que gostaria de estar, porém tudo foi edificante para a minha trajetória.
RS- Walewska conte para nós o quão você é grata?
R: Sou grata por tudo que vivi nesses anos de carreira e a todas as pessoas que cruzaram meu caminho, que de alguma forma contribuíram para o meu crescimento e sucesso.
Walewska lançou recentemente sua autobiografia “Outras Redes”, feita em parceria com o escritor Teco Condado. O livro conta detalhes da carreira e da vida pessoal.