Saúde mental na infância

Imagem: Pinterest

Grandes avanços tecnológicos ocorrem a todo instante no mundo, e ainda não fomos treinados, enquanto pais, a ensinar às nossas crianças, um assunto tão básico quanto o entendimento das nossas emoções.

A ideia, com este texto é falarmos sobre as emoções básicas do ser humano e como podemos ensiná-las às nossas crianças. E para isso, iniciamos explicando que podemos classificar as nossas emoções em emoções agradáveis e emoções desagrádaveis.

Chamamos de emoções agradáveis, as emoções que são gostosas de sentir, que produzem uma sensação acolhedora e animadora. E nomeamos como desagradáveis as emoções que produzem sensações ruins, que nos deixam agitados e tristes. Entre as emoções agradáveis estão, portanto, a alegria e o amor; e entre as emoções desagradáveis estão a tristeza, a raiva, o nojo e o medo. A partir destas emoções básicas virão todas as outras emoções e sentimentos, e para citar apenas alguns: aceitação, acolhimento, exposição, fragilidade, insegurança, indignação, angústia, ansiedade, culpa, desamparo, entre outros.

O que ocorre, é que, por não termos sido “treinados” enquanto cuidadores, e por filhos não virem com “manual de instrução”, às vezes acabamos por ensinar aos nossos filhos que as emoções desagradáveis não devem ser sentidas. Muitos dos nossos comportamentos, acabam invalidando quando a criança apresenta sentir essa emoção. E nesse movimento de invalidação, é aí que podemos gerar uma desregulação emocional na criança, e até mesmo um transtorno psicológico no futuro, porque não validamos a maneira como ela está se sentindo, ela entende que aquele sentimento é errado e vergonhoso. A isso chamamos de ambiente invalidante.

Uma metáfora que gosto bastante é a que as nossas emoções são como ondas e nós somos o barco. As ondas vêm, mas sempre passam. Quando nosso barco para de sacudir, é porque a onda passou. A onda passa, e quando ela passa, o barco volta a navegar normalmente. Nossa capacidade de voltar ao bem-estar, o barco sem sacudir depois da passagem da onda, nós chamamos de regulação emocional. As emoções se regulam quando somos capazes de sentir todas elas, mas sempre voltarmos ao porto seguro chamado bem-estar. Pensando dessa forma, tanto as emoções agradáveis quanto as emoções desagradáveis passam e é preciso ensinar às crianças que ninguém é tolo por se sentir alegre (alegria), ninguém é dependente dos outros por sentir amor ou gostar de algo ou de alguém (amor), que ninguém é covarde por sentir medo (medo), ninguém é fraco por sentir chorar ou se sentir triste (tristeza), ninguém é mau por sentir raiva (raiva), e ninguém é nojento ou antipático por sentir nojo de algo (nojo).

As emoções servem para nos proteger e para melhorar a comunicação entre a nossa espécie, e está tudo bem senti-las, nomeá-las e utilizá-las de maneira saudável para expressar como estamos nos sentindo.

Algo importante também a ser ensinado às crianças é que, não podemos controlar os pensamentos que vem à nossa cabeça, eles são automáticos. E também não conseguimos controlar a nossa emoção. Mas podemos fazer algo a respeito, para aprender a regular esta emoção. E por regular a emoção entendemos que podemos dominá-la, acomodá-la e utilizá-la de forma mais assertiva nos nossos relacionamentos, entendendo e respeitando o que é um sentimento meu, e o que é um sentimento do outro.

Sermos saudáveis emocionalmente não evita que tenhamos problemas, conflitos, perdas, desagrados, decepções e frustrações. O que ocorre quando desenvolvemos a habilidade de entendermos as nossas emoções é que sabemos que, por pior que seja, não somos aquilo que estamos sentindo, e que voltarmos ao bem-estar é uma questão de tempo, e de habilidades de regulação emocional.

 

Este texto tem como referência o livro “Emocionário – Dicionário das Emoções” de Renato Caminha e Marina Gusmão, publicado pela Editora Sinopsys em 2018).

 

Kátia Beal

Psicóloga – CRP 04/36616

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