A doença é muito comum após o pós-parto
É comum no pós-parto as mulheres desenvolverem incontinência urinária, pois o crescimento do bebê, do útero e o ganho de peso natural durante os 9 meses de gravidez, contribui para o aumento da pressão intra-abdominal e consequentemente da pressão sobre o assoalho pélvico, podendo ocasionar o enfraquecimento dessa musculatura e causar incontinência urinária.
Para falar sobre o assunto, convidamos a Dra. Lia Carolina Kretly, ginecologista e obstetra para explicar porque ocorre a incontinência pós-parto e quais os tipos de tratamento.
• Anatomia da pelve feminina
Os músculos do assoalho pélvico, também chamados de músculos do períneo, consistem na musculatura ao redor do introito vaginal e ânus, responsável por dar sustentação a órgãos como bexiga, útero e intestino. Seu enfraquecimento pode ocasionar sintomas como perda de urina aos esforços (ao rir, tossir e espirrar, por exemplo), urgência urinária com ou sem incontinência (quando vem uma vontade súbita de urinar, que pode ou não dar tempo de chegar ao banheiro), sensação de peso vaginal quando há enfraquecimento das paredes vaginais e prolapso de órgãos pela vagina (bexiga, reto ou o próprio útero), dificuldade para evacuar quando há enfraquecimento da parede vaginal posterior com queda do reto (porção final do intestino), etc.
Para entender esses sintomas é importante conhecer a anatomia pélvica feminina: logo acima do canal vaginal há o útero. Na frente do canal vaginal (ou seja, próximo à parede vaginal anterior) está a bexiga e atrás do canal vaginal (ou seja, próximo à parede vaginal posterior) está o reto. Dessa forma, um enfraquecimento dessa região pode ocasionar a perda de sustentação dos órgãos pélvicos gerando os sintomas mencionados acima.
Como ocorre a incontinência urinária na gestação e no pós-parto?
Algumas pacientes apresentam incontinência urinária já na gestação. Devido os hormônios gestacional, especialmente a progesterona, há um relaxamento de algumas musculaturas do corpo e o esfíncter vesical (músculo que contrai a uretra e segura o xixi) é um dos que sofre esse relaxamento. Na gestação temos também, pelo aumento do volume uterino causado pelo crescimento do bebê, uma redução na capacidade vesical; a bexiga fica literalmente “espremida” cabendo menos xixi, isso faz com que a gestante precise ir ao banheiro mais vezes e facilita a perda de urina. Além disso, o aumento da pressão intra-abdominal pressiona o assoalho pélvico e pode enfraquecer essa musculatura, causando a incontinência urinária.
Qualquer fator que aumente a pressão intra-abdominal pode aumentar o risco de incontinência urinária, como tosse crônica (doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC, asma descompensada, tabagismo), obesidade, prática de corrida, jump e levantamento de peso, múltiplas gestações, assim como próprio envelhecimento e a menopausa pela redução do estrogênio e colágeno na região vaginal, entre outros fatores.
Importante lembrar que a perda urinária pode ocorrer independente da via de parto (se a paciente teve parto normal ou cesárea), pois a própria gestação é um fator de risco, como explicado acima.
Quais os tratamentos para a incontinência urinária?
Como em muitos outros casos na medicina, “prevenir é o melhor remédio”. A prática de exercícios perineais na gestante, mesmo naquela que não tem nenhuma queixa na gestação, mostrou redução significativa de incidência de incontinência urinária 3 a 6 meses pós parto. O ideal é uma avaliação com uma fisioterapeuta pélvica para a prescrição correta do exercícios. A prática de pilates, que auxilia na consciência corporal e fortalecimento do assoalho pélvico também é benéfica. Além disso, não exceder o ganho de peso recomendado na gestação ajuda a sobrecarregar menos os músculos do períneo e protege contra a perda de urina.
Muitas vezes a incontinência urinária pós-parto é temporária, pois com o nascimento do bebê, a pressão sobre a bexiga acaba e com a normalização hormonal após o parto, os sintomas podem regredir espontaneamente.
“Geralmente, em seis meses a incontinência urinária tende a desaparecer, porém o ideal não é esperar esse tempo e sim procurar ajuda assim que notar os sintomas, pois existem aquelas pacientes em que o músculo não consegue se fortalecer sozinho e quanto antes iniciar o tratamento, mais rápido os sintomas melhoram, causando menos impacto na qualidade de vida da mulher” orienta Dra. Lia.
Desse modo, o fortalecimento pélvico é o primeiro passo para tratar a incontinência urinária, através da fisioterapia pélvica.
Com a fisioterapia é possível minimizar os escapes de urina e promover a reabilitação dos músculos do assoalho pélvico que auxiliam no controle da bexiga. Lembrando que esses exercícios devem ser orientados por um profissional e feito com regularidade para ter resultados.
Agora, quando a fisioterapia não funciona, o tratamento cirúrgico é considerado, onde através do exame físico e com auxílio de exames específicos, o ginecologista, de preferência com experiência em uroginecologia, ou o urologista, avaliará qual a cirurgia mais indicada, geralmente realizada pela via vaginal (através do canal vaginal), podendo ser necessário uma cirurgia de sling e/ou perineoplastia.
Se a mulher está passando por esse período de escapes de urina, existem roupas íntimas e absorventes específicos para melhorar a qualidade de vida da paciente. “Vale lembrar que, apesar de poder ser COMUM, incontinência urinária NÃO É NORMAL. Procure seu ginecologista de confiança para uma avaliação e orientações necessárias.” Lembra a Dra Lia.