O transporte coletivo de Uberlândia é 100% acessível e os projetos de acessibilidade do município foram reconhecidos pela ONU
A última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Brasil tem mais de 17 milhões de pessoas com deficiência. A previsão é de que, em 2021, esse número seja ainda maior. É por isso que os municípios precisam estar atentos e prontos para receber essas pessoas, proporcionando a todos uma boa qualidade de vida. Uberlândia, município do Triângulo Mineiro, é referência nesse assunto.
Em um momento em que a sociedade fala tanto sobre saúde e melhoria de vida, é necessário pensar e discutir sobre a rotina das pessoas com algum tipo de deficiência. Nem todas as cidades estão prontas e adaptadas para receber bem esse público, mas não é o caso de Uberlândia, que tem Idari Alves como Diretor de Acessibilidade da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano.
Há 59 anos, Idari nasceu com a anomalia genética chamada osteogênese imperfeita, que é uma doença congênita rara conhecida como ossos de cristal. O problema acabou gerando várias fraturas no corpo do diretor na juventude e fez com que ele precisasse usar uma cadeira de rodas. Hoje, ele trabalha em prol de ajudar a melhorar a acessibilidade do maior município do interior de Minas Gerais.
“Tenho 40 anos de militância no movimento de pessoas com deficiência no Brasil. Eu sou historiador com mestrado em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com foco na cidadania da pessoa com deficiência. O meu trabalho acadêmico de história foi o primeiro feito no Brasil com foco no direito a ter direito”, relembrou.
O primeiro projeto que Idari se envolveu na área da acessibilidade do município foi o Uberlândia Sem Barreiras, criado em 1997. “Foi quando começou a mudar a mentalidade da população no sentido de entender que a sensibilidade não era um favor, mas sim um direito. Era uma campanha educativa para Associação dos Paraplégicos de Uberlândia e foi um sucesso. Foi o pontapé inicial para pararmos de reclamar e passarmos a ter uma mudança mais efetiva de mentalidade”.
Conhecendo na pele as dificuldades de uma pessoa com deficiência e trabalhando sempre para melhorar o acesso dessas pessoas em todo e qualquer lugar, Idari começou a trabalhar junto a Prefeitura de Uberlândia em 2001. Mesmo sendo diretor da área de acessibilidade na cidade, o historiador faz questão de sempre acompanhar a vistoria de orientação técnica de acessibilidade.
“Eu fui convidado a assumir o cargo de Chefe da Sessão de Acessibilidade. Eu entrei com o objetivo de tentar criar um programa de acessibilidade para cidade. Nós conseguimos implantá-lo e nossa ideia era de que aquilo não fosse apenas um programa de um governo, mas que virasse uma política de estado na cidade. Isso aconteceu, hoje a acessibilidade é um tema bem aceito em Uberlândia”.
Um dos projetos municipais criados por Idari foi a Cartilha de Acessibilidade, que é um material pedagógico usado para facilitar o trabalho das pessoas na hora de construir imóveis acessíveis na cidade.
“Essa cartilha é o nosso cartão de visita, nós trabalhamos com ela há mais de 10 anos. Estamos na 5ª edição da cartilha e com isso, aos poucos, nós vamos conquistando um bom resultado. Nós já tivemos dois prêmios do Governo Federal na área de boas práticas em acessibilidade. Em 2010, participamos do projeto da ONU Habitat, que apresentou os 100 melhores projetos de acessibilidade do mundo, inclusive o nosso. O diferencial da cidade hoje é que tudo que se constrói, seja público ou privado, obrigatoriamente precisa contemplar a acessibilidade, se não a obra não é aprovada”, afirma.
Outro ponto positivo da cidade é a educação inclusiva. De acordo com Idari, todos os colégios municipais de Uberlândia estão aptos a receber alunos com deficiência. Os professores usam a linguagem de sinais na sala de aula e a Secretaria Municipal de Educação já tem um material pronto para que os alunos com alguma deficiência possam participar das aulas de forma igualitária.
Tornar Uberlândia um município mais acessível é uma das políticas públicas do governo, afirma o diretor. “Somos a primeira cidade do Brasil a conquistar 100% dos ônibus com elevadores para cadeiras de rodas. Recentemente, o prefeito determinou a troca de todos os semáforos com a colocação da botoeira eletrônica para a travessia segura da pessoa com deficiência visual”.
Apesar de não gostar de fazer comparações com outras cidades brasileiras, Idari olha para Uberlândia e vê como alguns municípios ainda estão atrasados na questão da acessibilidade. Ele afirma que a sociedade precisa ter o entendimento da inclusão e não apenas criar meios mais acessíveis.
“O que eu acho mais importante é a gente entender que o município precisa incluir a acessibilidade na temática da cidade. É construção de consciência coletiva, é vontade política! Nós temos muita boa vontade que a acessibilidade seja feita na cidade sempre da melhor maneira possível”.
Ao olhar para Uberlândia de 20 anos atrás, Idari se sente feliz por tudo que foi conquistado em nome das pessoas com deficiência, mas ele afirma que há muita luta pela frente e pretende continuar trabalhando sempre para poder melhorar a qualidade de vida de todos igualmente.
Darah Gomes I Redação