A importância do acompanhamento oftalmológico na primeira infância
“O desenvolvimento das funções visuais não está completo ao nascimento. Durante os primeiros anos de vida ocorre um progressivo aprimoramento da visão”
Mais da metade dos problemas de cegueira infantil no Brasil poderiam ser revertidos se descobertos no início – esta é uma informação do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Esse dado demonstra o quanto é importante o acompanhamento oftalmológico na primeira infância, de 0 a 5 anos.
A maior parte das pessoas acreditam que o teste do olhinho feito na maternidade é suficiente para assegurar uma boa visão, não necessitando de outros exames oftalmológicos, ou somente procuram um oftalmologista quando a criança apresenta algum incômodo nos olhos e na visão.
O desenvolvimento das funções visuais não está completo ao nascimento. Durante os primeiros anos de vida, ocorre um progressivo aprimoramento da visão, com o surgimento de novas sinapses neuronais que irão compor a via óptica.
Esse período de plasticidade visual ocorre durante a primeira década de vida, tem pico por volta dos dois anos de idade com finalização da mielinização do nervo óptico e vai diminuindo gradativamente. Qualquer doença no olho ou no sistema visual nessa época, em especial nos primeiros meses de vida, pode comprometer a visão.
Quando ocorre a perda da capacidade visual devido à carência de estímulos adequados no período crítico do desenvolvimento visual, de um ou de ambos os olhos, denominamos essa condição de ambliopia ou popularmente conhecido como “olho preguiçoso”.
A ambliopia corresponde à segunda doença ocular mais tratável, mas também um dos maiores problemas de saúde ocular, afetando cerca de 15 milhões de pessoas no Brasil porque existe cura se diagnosticada precocemente.
A ambliopia pode ocorrer pela anisometropia, que ocorre quando o grau é muito diferente nos dois olhos e aí somente o olho de melhor visão desenvolve. Pode ocorrer também pelo estrabismo, pois o córtex visual inibe a visão no olho desviado. Pode ocorrer por fatores orgânicos que são devidos a lesões de origem desconhecida no sistema visual e por deprivação visual, que é devido à opacidade de meios, como cataratas congênitas e lesões corneanas.
Para entender um exemplo, uma criança que tem privação visual (e nesse caso pode ser pela falta do uso de óculos) antes dos 2 anos e meio de vida, por um período de 3 meses ou mais, a visão do olho afetado pode ser reduzida a menos de 10%. Se a privação visual começa após os 2 anos e meio até os 8 anos de idade, difere somente pelo fato de que a visão reduz em uma menor porcentagem, mas é provável que responda ao tratamento oclusivo.
Por isso, o acompanhamento da infância deve ser regular desde o nascimento. Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria e da Sociedade Brasileira de Pediatria acerca da periodicidade do exame oftalmológico nas crianças saudáveis na primeira infância, toda criança deve fazer o TRV, teste do reflexo vermelho pelo pediatra nas primeiras 72h de vida ou antes da alta da maternidade e avaliações oftalmológicas completas entre 6 a 12 meses de vida e entre 3 a 5 anos (idealmente aos 3 anos), além de novas avaliações conforme orientação individualizada e diagnóstico.
Dra. Letícia Aparecida Naves Borges (CRMMG 67275 RQE 35132)
Oftalmologista
Fellowship em Estrabismo, Plástica Ocular, Vias Lacrimais e Órbita
Membro da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular