Os desafios da parentalidade frente ao transtorno do jogo pela internet

Os desafios da parentalidade frente ao transtorno do jogo pela internet

Os desafios da parentalidade frente ao transtorno do jogo pela internetOs desafios da parentalidade frente ao transtorno do jogo pela internet

Como negociar o tempo que meu filho fica na internet?

Atualmente, é impossível pensar em crianças e adolescentes que não tenham acesso a celulares, internet, jogos on-line e demais recursos tecnológicos.

Apesar de toda a disseminação de jogos eletrônicos e da expansão desse ramo como um negócio, que se tornou até mais lucrativo que o cinema, nem todos fazem uso da maneira saudável. Os jovens podem ser acometidos por adoecimento psicológico e desenvolvendo o transtorno do jogo pela internet.

Os jogos têm lado positivo, claro. Eles estimulam a criatividade, podem se tornar uma profissão, ajudam na memória, concentração e aprendizagem de novos idiomas. Também ensinam sobre estratégia, trabalho em equipe, resolução de  problemas e competitividade.

Mas, então, quando é problema? Quando eu preciso de cada vez mais tempo conectado para me satisfazer; quando isso se torna uma fuga do meu cotidiano, quando eu preciso desse recurso para evitar o tédio e quando eu deixo de lado atividades importantes, como escola, estudo, trabalho, amigos reais e presenciais, fazer atividades com a família, porque necessito estar conectado o tempo todo.

Quais as causas desse problema? Assim como outros problemas de ordem psicológica, as causas são multifatoriais. Pode ser por uma aprendizagem inadequada, sem oferta de modelos em casa, famílias disfuncionais ou que terceirizam os cuidados dos filhos e que estão muito ausentes, envolvidos com as próprias questões, como ter que trabalhar muito. Também acontece com crianças que têm dificuldade de socialização, que tem tempo ocioso demais, entre outras inúmeras razões.

Pode ser considerado um transtorno? A APA (Associação Americana de Psiquiatria) estuda, muito em breve incluir na próxima edição do ‘Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais’, a inclusão da doença do jogo patológico como   um transtorno. Estudos preliminares têm observado os seguintes sintomas em crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos: alucinações auditivas, tendinites, enurese, encoprese, crises epiléticas. Também foram observados os mesmos sintomas da abstinência de droga em dependentes químicos, tais como: irritabilidade, ansiedade, nervosismo, insônia, tremores, agressividade.

Isso acontece porque ocorre a liberação de dopamina, que é o hormônio do prazer no cérebro, que causa a euforia e atua no centro de recompensa. E é isso que, para as pessoas com predisposição, leva à dependência. Inicialmente, a pessoa vai em busca dessa liberação de dopamina para sentir prazer novamente e cada vez mais para diminuir os sintomas de abstinência que sente quando se afasta dos jogos, que é a atividade prazerosa.

Eu posso ajudar meu filho? Primeiramente, é preciso deixar bem claro que os pais são responsáveis pela vida digital dos filhos. E há algumas estratégias que podem auxiliar, tais como:

  • Não terceirizar o cuidado (quando possível, claro);
  • Os pais precisam ter disponibilidade para estar com os filhos (é mais fácil deixar jogando, enquanto temos uma tarefa ou trabalho a fazer ou simplesmente não queremos brincar);
  • Inserir novos hábitos (esporte, leitura, culinária, uma aula extra, natação, );
  • Negociar o tempo, colocar limites (de acordo com a idade dos filhos);
  • Flexibilizar (liberar mais tempo aos fins de semana, ou conforme o rendimento na escola);
  • Dialogar sobre os riscos da vulnerabilidade com a exposição na internet (pedófilos, pornografia, golpes, etc);
  • Tentar substituir por um animal de estimação porque a criança ou adolescente terá que ter um tempo para os cuidados com o pet;
  • Estipular em que momento a criança poderá acessar a internet, usar o celular ou jogar. Por exemplo: depois que terminar as tarefas, meia hora antes de dormir;
  • Cumprir os Se cedermos uma vez, os filhos entendem que podemos ceder sempre e aí não podem querer burlar as regras frequentemente.

Referências:

DSM V – Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais

Livro Dependência de Internet de Kimberly Young e Cristiano Nabuco de Abreu.

Kátia Beal

CRP 04/36616

Especialista em Psicologia Clínica

Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

 

Revista Soberana

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