O café e a saúde

O café e a saúde

O café e a saúde

“Não tome nenhuma decisão antes de uma boa noite de sono, um bom banho e um café feito na hora, o pensar ainda é o melhor conselheiro.” Yhulds Bueno

Quando falamos de alimentos funcionais e saúde, devemos lembrar que as bebidas também ocupam um papel importante no nosso cardápio de escolhas e não são tão somente coadjuvantes. Quem não gosta de apreciar aquela gostosa xícara de café, ainda mais se este prazer estiver associado a benefícios à saúde?

Muitos já aprenderam que o café veio da Etiópia e que a Europa foi responsável em difundir o consumo da bebida pelo mundo. De acordo com a Lenda de Kaldi, o pastor Kaldi observou que as cabras ficavam alegres e cheias de energia depois que mastigavam os frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos abundantes dos campos. Registros históricos de 575 D.C indicam o Iêmen (atual Sudoeste da Ásia) como a primeira região a receber as sementes de café. Os habitantes faziam infusão com o café fervido em água, geralmente, para fins medicinais.

Os árabes dominaram rapidamente a técnica de plantio e preparação do café. As plantas foram denominadas Kaweh e a bebida recebeu o nome de Kahwah ou Cahue, que significa “força” em árabe. O processo de torrefação foi outro passo importante para a popularização do café no mundo, mas só foi desenvolvido no século XIV, quando a bebida adquiriu forma e gosto como conhecemos hoje.

Existem muitos mitos sobre os efeitos do café sobre a saúde e o coração, mas à luz dos conhecimentos científicos existem mais razões para consumir do que abrir mão de apreciar uma das mais consumidas bebidas do mundo.

O café e a saúdeResultados dos estudos que analisam o consumo de café e a influência dele na pressão sanguínea são muito inconsistentes, referindo associações positivas, inversas e inexistentes. De um modo geral, não existe uma clara relação causal entre o consumo de café e hipertensão. Segundo o médico e pesquisador Luiz Antonio Machado César, do Instituto do Coração – InCor, do Hospital das Clínicas – HC da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP, o café não faz mal à saúde se tomado em quantidades moderadas e habituais, ou seja, até quatro xícaras ao dia. Houve discreto aumento no colesterol ruim e colesterol bom. Observou-se também que, depois de ingerir café, as pessoas normalmente conseguiam andar mais na esteira, ou seja, melhora a disposição ao exercício. Desde que em quantidade habitual e que o paciente seja acostumado a tomar café, não há nenhuma restrição à ingestão da bebida por pessoas com problemas de hipertensão, problemas na válvula mitral ou que já passaram por cirurgias cardiovasculares, como ablação e cateterismo cardíaco. Há quem consuma cafeína e tenha algum aceleramento do coração, a chamada taquicardia. Nesses casos, não é recomendado ingerir a bebida com frequência.

O nosso cafezinho é composto de apenas 2% cafeína sendo os outros 98% de açucares e polifenóis, que ajudam a manter um sistema cardiovascular saudável. Os polifenóis contidos no café têm potenciais vasoprotetoras. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, os riscos de elevação da pressão arterial causados pela cafeína, em doses habituais, são irrelevantes. Estudos com o café observaram melhora na vasodilatação, diminuição de formação de placas aterogênicas, diminuição de triglicérides, efeito estimulante do sistema nervoso central e melhora de fadiga. Um estudo conduzido pelo Dr. Miguel Moretti (coordenador da unidade café e coração do InCor) apresentou dados de pesquisas que mostraram redução da incidência do diabetes tipo II e melhora no perfil lipídico em consumidores moderados de café.

Outro estudo com 521.330 adultos de 10 países europeus durante 16 anos mostrou que a ingestão de pelo menos 3 xícaras de café por dia foi associado a um menor risco (7-12%) de mortalidade por todas as causas (Gunter et al., Ann Intern Med, 2017). Mas nem tudo são flores, a questão da eventual dependência de cafeína tem sido debatida por muitos anos, e provavelmente o hábito de consumir café é causado pelo reconhecimento de que é uma bebida estimulante e não por quaisquer qualidades viciantes da cafeína.

Estudos de mapeamento cerebral indicam que a cafeína não está ligada ao circuito de dependência do cérebro e, por conseguinte, não preenche os critérios para ser descrito como uma droga de dependência. Embora a interrupção abrupta do consumo de cafeína pode induzir sintomas de privação em alguns indivíduos. Pesquisas em seres humanos não conseguiram encontrar qualquer ativação do circuito cerebral de dependência com a ingestão de cafeína. Essa abordagem “mapeamento cerebral” para o estudo da dependência em seres humanos mostra que a cafeína não cumpre os critérios exigidos para ser descrito como uma droga de dependência. Segundo a Organização Mundial da Saúde, “não há nenhuma prova de que o uso de cafeína tenha consequências físicas e sociais comparáveis, ainda que remotamente, às consequências das drogas de abuso” e o Comitê Antidoping Internacional, tirou a cafeína da lista de drogas proibidas para atletas. O café deve ser visto como um alimento saudável. Consumido com moderação, pode evitar depressão e ajuda a controlar distúrbios na área do cérebro que controla o prazer.

Algumas pessoas podem não receber os benefícios do café e ter a saúde comprometida ao consumir a bebida. No caso das mulheres grávidas, a cafeína pode interferir em uma substância chamada adenosina, que é importante para formação do bebê. Quem tem gastrite muito sintomática, também deve evitar consumir a bebida, pois a cafeína estimula a secreção gástrica e causa desconforto no estômago.

O consumo de café tem-se mostrado eficaz na redução dos riscos de doenças neurodegenerativas como a Doença de Parkinson e Alzheimer. Em um estudo de corte, homens que consumiam pelo menos 3 a 4 xícaras de café por dia apresentavam um risco 5 vezes menor de desenvolver Parkinson. Já uma pesquisa publicada no periódico Journal of Alzheimer’s Disease demonstrou que a interação de uma substância da cafeína aumentou os níveis de um fator do sangue chamado GCSF, responsável por evitar o progresso do Alzheimer em camundongos. Estudos observacionais em humanos já haviam relatado que a ingestão diária de café diminui os riscos da demência. Pesquisas da Universidade da Flórida do Sul, nos Estados Unidos, indicavam que a ingestão de 4 a 5 xícaras por dia é suficiente para neutralizar a patologia e a perda de memória nos camundongos com Alzheimer. Para ser eficiente contra a doença, o consumo da bebida pode ter início na idade adulta, entre 30 anos e 50 anos, mas o consumo precoce aumenta os níveis de proteção.

A recomendação geral é de consumo moderado de café, que vai de 4 a 7 xícaras por dia, de preferência o café passado pelo coador de papel ou de pano, “pois a maior parte dos 20% de lipídeos que existem no café são retidos pelo coador”.

Mude seus hábitos e adote um estilo de vida saudável. Assim como em quase tudo na vida, mesmo com tantos benefícios, a recomendação para o cafezinho é “aprecie com moderação”.

 

Dr. Rodrigo Penha de Almeida Cardiologista e hemodinamicista

Revista Soberana

Instagram Revista Soberana

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *