Como evitar problemas no coração
“Até mais importante do que o que não devemos comer, seria o que devemos acrescentar em nossa dieta”
Durante muitos anos como cardiologista, percebi que um dos maiores inimigos dos meus pacientes, sem dúvida nenhuma são os “maus hábitos de vida”. Nunca é demais lembrar que é sempre melhor prevenir. Porém, ainda lidamos no dia a dia com problemas causados por doenças e fatores de riscos que poderiam ser evitados. Melhor do que falar, é praticar. Na casa das pessoas com hábitos alimentares ruins os filhos também têm grandes chances de manter os mesmos hábitos, então os pais são responsáveis por tudo aquilo que fazem e como vivem, pois são os maiores exemplos para os filhos.
Idealmente, o colesterol LDL (Low-density lipoprotein) deve ser menor que 100 mg/dL e o HDL (High-density lipoprotein) maior que 40 mg/dL, porém se já existir alguma doença estabelecida causada pela gordura ou algum fator de risco importante como diabetes, tabagismo, antecedente familiar, etc, esses níveis são ainda mais rigorosos.
Não existe muito segredo, a dieta deve ser rica em um tipo especial de gorduras, chamadas de insaturadas e pobres em um outro tipo, chamadas saturadas. Devemos lembrar que aproximadamente 75% do nosso colesterol é de origem endógena (produzido pelo fígado) e apenas 25% vêm da alimentação. Logo, se os valores do LDL forem muito elevados, somente a dieta não será suficiente para normalizar os valores do colesterol ruim. Exercícios físicos também ajudam a elevar o HDL e a diminuir o LDL.
Muitas vezes apenas a dieta e os exercícios físicos já são suficientes para aqueles pacientes com aumento discreto do colesterol, porém o mais importante é que os níveis desejados de colesterol sejam rapidamente atingidos e mantidos baixos por toda a vida.
Um grande problema dos consultórios de cardiologia é que o colesterol alto não provoca nenhum sintoma, e o paciente pode ficar por vários anos sem procurar ajuda e nem mudar os hábitos de vida. A única maneira de saber os níveis reais de colesterol é através de exames laboratoriais periódicos.
Os medicamentos de escolha para redução do LDL e aumento do HDL são as estatinas, também chamadas de inibidores da enzima HMG-coA reductase (enzima do fígado responsável pela produção de colesterol). As estatinas mais prescritas são a sinvastatina, a atorvastatina e a rosuvastatina. Essas duas últimas são as mais potentes e conseguem reduções do colesterol com menores doses. Porém, quando comparamos doses equivalentes, não há diferenças nos resultados entre todas as estatinas. Portanto, a escolha deve ser individual, baseado nas condições econômicas e na adaptação do paciente à droga. No final das contas, todas as estatinas são efetivas.
Não existe nenhuma dúvida que as mudanças no estilo de vida, incluindo a prática regular de exercícios físicos e uma dieta adequada, são importantes medidas para o controle dos níveis de colesterol. Qualquer grau de redução no colesterol é bem-vindo, já que a cada 1% de redução dos níveis de LDL no sangue diminui-se em 2% o risco de doenças cardiovasculares.
Seja inteligente, consulte o seu médico ou uma nutricionista e não acredite em dietas milagrosas ou tratamentos mirabolantes, principalmente os amplamente divulgados na internet. Por exemplo, não é preciso cortar carnes da dieta. A carne de boi ou porco devem ser de cortes magros. A quantidade ideal de carne por dia é de 150 a 200g (aproximadamente a porção deve ter o tamanho da palma de sua mão). Uma dica interessante é evitar carne de órgãos (miúdos) e carnes fritas. Evite linguiça, salsicha, mortadela, salame, presunto e bacon.
Até mais importante do que o que não devemos comer, seria o que devemos acrescentar em nossa dieta. Outra mentira é que tudo que é bom ou gostoso engorda e faz mal. O ômega 3 é um tipo de gordura encontrada em peixes, principalmente os de águas frias como salmão e a sardinha, nas sementes de linhaça, óleo de linhaça, óleo de canola, óleo de soja e nozes. Sugere-se o consumo de no mínimo duas refeições por semana com peixes ricos em ômega 3.
O consumo regular de alimentos ricos em fibras como as frutas e os vegetais ajudam a reduzir o colesterol LDL e devem ser a base da alimentação. No preparo dos alimentos, prefira os óleos vegetais, como azeite, soja, girassol, canola, milho, algodão e arroz, pois não possuem gordura saturada e são ótimas fontes de gordura saudável (gorduras insaturadas). Mas atenção, eles não devem ser fervidos, pois altas temperaturas mudam a estrutura química, transformando-os em gordura saturada (gordura ruim).
O chocolate amargo é rico em flavonoides, substâncias que diminuem o LDL, mas atenção, o chocolate amargo não deve ser substituído pelo chocolate comum, pois ele costuma aumentar os níveis de colesterol devido ao alto teor de açúcar.
Ao entrar na padaria, escolha pão integral, ou aqueles feitos com cereais de aveia, milho ou trigo. Evite pães nos quais ovos, gordura ou manteiga sejam os ingredientes principais, biscoitos com alto teor de gordura, bolos, muffins contendo leite integral, gemas de ovos ou óleos saturados.
Mesmo naqueles pacientes que precisam de remédios para controlar o colesterol, a dieta é importante pois potencializa a ação das drogas, fazendo com que seja necessário o uso de doses menores, diminuindo os custos do tratamento e a incidência de efeitos colaterais.
Cuide bem de sua saúde e lembre-se: A prevenção é sempre o melhor caminho, o menos sofrido, o mais barato e o mais garantido.
Cardiologista e hemodinamicista
Atende na Clínica Vitis Med Center