Nesta quinta-feira, 18, o youtuber Felipe Neto lançou a plataforma Cala Boca Já Morreu, com o intuito de dar apoio jurídico para as pessoas que foram vítimas de abuso de autoridade em território brasileiro. A ideia surgiu após o rapaz ter sido intimado e investigado pela polícia por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de genocida.
Felipe foi intimado na última segunda-feira, 15, após Carlos Bolsonaro, filho do atual presidente, ter acusado o youtuber de cometer crime contra a segurança nacional. O político já tinha feito outra denúncia para o mesmo delegado sobre Felipe Neto, afirmando que o jovem divulgava material impróprio para crianças e adolescentes no YouTube. Na manhã de quinta-feira, 18, a Justiça suspendeu as investigações do último suposto crime em que o rapaz foi acusado. Carlos fez a acusação com base em tweets do youtuber chamando Jair Bolsonaro de genocida. O adjetivo refere-se a uma pessoa responsável pelo extermínio de muitas pessoas em pouco tempo e a juíza Gisele Guida da 38ª Vara Criminal do Rio de Janeiro conheceu a ilegalidade do procedimento criminal. “minha atribuição do termo genocida ao Presidente se dá pela sua nítida ausência de política de saúde pública no meio da pandemia, o que contribuiu diretamente para milhares de mortes de brasileiros”, afirmou Neto no Twitter.
Nas redes sociais, desde que foi acusado por Carlos, o youtuber se mostrou preocupado, mas não pela denúncia e sim pela falta de liberdade de expressão das pessoas. “O objetivo da família Bolsonaro não é mais colocar medo em mim. Eles sabem que tenho uma estrutura enorme para me defender. O objetivo é botar medo em você. Para que você tenha medo de falar, por achar que irão te perseguir”, disse Felipe aos seguidores.
Durante a semana, youtuber vem se mostrando muito preocupado com a falta de liberdade de expressão. Por esse motivo, ele, junto com quatro escritórios de advocacia, lançaram a plataforma Cala Boca Já Morreu. Nela, todos os brasileiros que já tenham sofrido por abusos de autoridade vão receber respaldo jurídico de uma equipe de advogados especializados. “É um grupo da sociedade civil preocupado com o avanço no autoritarismo e movido pelo seguinte princípio: quando um cidadão é calado no exercício do seu legítimo direito de expressão, a voz da democracia se enfraquece. Não podemos nos calar; não podemos deixar calar”, informa a plataforma.
Uberlândia
Está oficialmente lançado!
CALA BOCA JÁ MORREU
Ninguém ficará sem defesa caso seja vítima de abuso de autoridade contra a liberdade de expressão.
Um povo jamais deve temer seu governo. O governo é que deve temer seu povo.
Espalhe o vídeo e deixe RT.https://t.co/fzRa6ZI8LJ pic.twitter.com/9viiWZereU
— Felipe Neto (@felipeneto) March 19, 2021
Felipe Neto fez um vídeo para falar sobre o caso e lançar o Cala Boca Já Morreu. No vídeo, o jovem cita Uberlândia informando, com dados do jornal O Tempo, que 25 pessoas do município do Triângulo Mineiro foram procuradas pela Polícia Federal para prestarem depoimento sobre posts da internet falando sobre o atual presidente. Isso ocorreu quando Jair Bolsonaro passou brevemente pela cidade no dia 4 de março. Uma das vereadoras de Uberlândia, Dandara Tonantzin, se posicionou sobre o caso no Twitter. Ela afirmou que teve as contas hackeadas após publicar uma nota de repúdio sobre a militarização das escolas e relacionou os últimos ocorridos com o início do golpe militar de 1964.
Presságio?
Felipe Neto chamado para depor por críticas a Bolsonaro, J. foi preso em Uberlândia por conta de um Tweet, minhas redes foram hackeadas ontem após nota de repúdio a militarização das escolas. Lembrem-se o golpe militar foi dia 1º de abril de 1964.#DitaduraNuncaMais
— Dandara (@todandara) March 18, 2021
A Revista Soberana tentou entrar em contato com a assessoria de Felipe Neto, mas as ligações não foram atendidas. Em ligação com a equipe de Carlos Bolsonaro, eles pediram para que os assuntos fossem tratados por e-mail. Nossa equipe mandou e-mail para assessoria de ambos e até o momento não recebeu nenhum posicionamento.
Notas
Associação Brasileira de Imprensa (ABI): “O youtuber Felipe Neto foi intimado a depor na Delegacia de Crimes de Informática da Polícia Civil após ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de genocida, em razão da sua gestão à frente da Pandemia.
Em vídeo publicado no Instagram, Felipe diz ter ficado muito espantado por ter sido acusado de crime contra a segurança nacional. ‘Vou enfrentar como sempre enfrentei as tentativas de silenciar desse governo. Eles querem propagar o medo. Mas um povo nunca deve ter medo do governo’.”
Observatório do Clima:
O Observatório do Clima repudia a tentativa de intimidação a @felipeneto 👇🏼👇🏼👇🏼 pic.twitter.com/r0BKxycpXr
— Observatório do Clima (@obsclima) March 16, 2021
Instituto Socioambiental (ISA):
“Declaramos nossa solidariedade a Felipe Neto e repudiamos qualquer tentativa de silenciamento de membros e organizações da sociedade civil.”