“Não adianta querermos a transformação e continuarmos com os mesmos hábitos de compras, consumindo nas mesmas lojas que não aderem à moda consciente. A consciência começa em nós.”
Já se passou a época em que a moda era entendida apenas como uma escolha de tecidos e estampas para usarmos. O mundo fashion marca períodos históricos e aborda assuntos importantes, como sustentabilidade, autoestima, arte, política. Alguns dos pontos que podem até não parecer, mas interferem diretamente na moda, e vice-versa, é a tecnologia e a economia.
Ao mesmo tempo em que a moda é visual e beleza, ela também busca estratégias e ferramentas para ser inserida da forma mais sustentável, confortável e acessível ao público. Para isso, é utilizada a tecnologia de novos tecidos e máquinas de produção. A economia também afeta a indústria fashion, não é à toa que o setor têxtil é responsável por 10,8% dos empregos gerados em Minas Gerais, de acordo com o Ministério da Economia. É uma área que lucra cada dia mais e busca opções para aumentar sempre o valor arrecadado anualmente.
A fast fashion, moda rápida em tradução literal, é uma forma de produção feita para aumentar o lucro das grandes empresas. Ela faz com que as tendências estejam em constante mudança e cria um desejo de consumo em um curto período de tempo. Isso pode até ser positivo para a economia, mas gera grandes prejuízos para humanidade. Esse tipo de produção é feita em larga escala e aumenta o número de trabalho escravo, pois a confecção de peças cresce de uma forma absurda.
Outro ponto prejudicial é a escolha por produtos mais baratos e não sustentáveis para aumentar ainda mais o lucro, além da falta de clareza sobre como cada roupa ou acessório foi produzido. Marina Toeters, criadora da By Wire, empresa que assessora designers interessados em inovação de materiais e processos, acredita que esse tipo de produção acelerada deve e vai acabar. “Essa lógica de lançamento de coleções a cada seis semanas, de roupas feitas em quantidade em lugares onde o custo de produção é muito baixo, vai acabar. Muito em breve os consumidores não vão mais aceitar isso, na minha opinião esse é um tipo de sistema que vai morrer, e por isso precisamos de novas estratégias. Implementar a interatividade na moda pode ser uma das soluções para esse problema que a indústria já está enfrentando”, disse.
Um dos movimentos globais que busca mudar essa busca apenas pela parte financeira no mundo da moda é a Fashion Revolution, revolução da moda em tradução livre. Por meio das redes sociais e eventos esporádicos ao redor do mundo, os apoiadores do movimento pedem que as redes têxteis sejam mais transparentes e responsáveis, aderindo a moda consciente. Essa expressão se refere a transparência do impacto ambiental que foi gerado para criação de cada roupa. Com as informações, o consumidor poderá fazer uma compra consciente, sabendo exatamente dos problemas que aquela peça causou no planeta. Sabendo disso, podemos optar pelas roupas mais sustentáveis e cobrar das marcas que utilizem uma tecnologia de melhor qualidade.
Já há ferramentas para produzir roupas sem a emissão de gases ou pegadas ambientais, com o uso reduzido de água e energia, e até utilizando produtos reciclados. Esses materiais costumam ter até uma maior durabilidade, mas o problema é que têm o valor elevado. O alto preço faz com que a maioria das empresas optem pelos produtos mais baratos e que degradam cada vez mais o meio ambiente.
Enquanto a indústria não muda radicalmente a forma de produção, os amantes da moda optam cada vez mais pela ideia de moda circular. Esse conceito transmite a ideia de que nada é lixo, tudo deve circular e ser reutilizado. Quando chegarem ao fim, os produtos precisam ser transformados em algo novo e voltar para os armários e produções.
O que tudo indica é que, enquanto não houver mudança na forma de consumo da população, a indústria não mudará por completo. As marcas visam o lucro e, mesmo que utilizem esporadicamente alguns materiais mais sustentáveis, as peças só serão 100% positivas ambientalmente quando exigirmos essa troca. Não adianta querermos a transformação e continuarmos com os mesmos hábitos de compras, consumindo nas mesmas lojas que não aderem a moda consciente. A consciência começa em nós.
Darah Gomes | Jornalista Especialista em Moda