O mundo de aventuras criado por Mauricio de Sousa
O cartunista brasileiro que encantou o Brasil e o mundo com a Turma da Mônica
Os gibis da Turma da Mônica acabam de completar 62 anos de muita história, fazendo parte da vida de milhares de crianças e as incentivando ao hábito da leitura. O responsável pelo trabalho de décadas é Mauricio de Sousa, cartunista e escritor que já ganhou prêmios em diversos países, inclusive, foi reconhecido como Mestre do Quadrinho Nacional.
A ligação com os quadrinhos começou quando Mauricio ainda era uma criança, aos 4 anos. Ele encontrou uma revista em quadrinhos na rua e levou para casa, mal sabendo que aquele momento mudaria todo o percurso da vida dele. “Meus pais viram que adorei ver aqueles desenhos e começaram a comprar mais gibis para mim. Desde então, não parei de adorar os desenhos, que me estimularam a começar a rabiscar meus primeiros desenhos”, relembra o autor.
Mauricio começou o trabalho como cartunista no ano de 1959, contando com os personagens Bidu e Franjinha. No início, as tirinhas eram disponibilizadas em jornais. Até que em 1960, ele criou a ‘Turma da Mônica’ inspirado na própria família. O sucesso da turminha do Bairro do Limoeiro foi tão grande que em 1970 o escritor levou as histórias para os gibis.
Tendo contato sempre com esse mundo divertido e colorido dos quadrinhos, o talento de Mauricio foi crescendo cada dia mais. O escritor afirma que o processo criativo sempre foi muito natural, “os personagens já viviam as aventuras de mim”, brinca. Ele conta que, quando produzia tirinhas para periódicos, tinha sempre apenas uma ideia inicial e deixava para fazer as histórias no fechamento do jornal. “Eu não tinha ideia de como terminaria, mas vinha tudo certinho. Não há uma fórmula [para criar], mas tem que manter o estímulo e criatividade à flor da pele para conseguir produzir algo novo”, explica.
Por ter sido contagiado pelo entretenimento dos quadrinhos, o criador da Turma da Mônica revela que tem como meta levar criatividade aos leitores. “Está em nosso DNA, assim sabemos que estimulamos a leitura e alfabetizamos milhões de crianças que atingimos nesses anos de trabalho”, afirma o escritor. Uma das leitoras que foi marcada pelas histórias de Mauricio foi Marciene Machado, que cresceu lendo os gibis e ainda guarda vários como lembrança. “Eu ganhei o primeiro de um amigo e adorei. Depois passei a comprar vários para ler”, relembra.
Os leitores são parte importante da Turma da Mônica, eles que fizeram os personagens saírem do papel e estarem em tantos lugares de destaque do mundo inteiro, como parques, aniversários, resorts e muito mais. Não é à toa que, quando questionado sobre qual personagem favorito, Mauricio diz que isso é com os leitores. “Cada nova revista é um novo filho que produzimos e filhos não tem o mais querido. Quem elege o melhor é o leitor e sabemos que Mônica e Chico Bento são os preferidos dos leitores”, afirma o autor.
Além dos leitores fiéis, Mauricio também contou com muita perseverança e planejamento para chegar aonde está hoje. Ele afirma que começou a pensar em tudo que queria há 62 anos, já pensando no que queria conquistar a cada década e conseguiu. “A sensação é de dever cumprido pelo nosso planejamento. A primeira década de publicação de tiras e páginas de HQ em jornais pelo Brasil, a segunda década o lançamento das revistas em quadrinhos e início do merchandising, a terceira década com as animações e a quarta com os shows e parques. Depois disso, focamos nas novas plataformas de comunicação, na internacionalização dos personagens e sintonia com a educação”, conta.
Com uma boa veia empreendedora, Mauricio percebeu que alguns leitores migravam para o mangá (quadrinho japonês) quando estavam na adolescência. Com isso, ele teve a ideia de criar a Turma da Mônica Jovem no estilo mangá-caboclo em 2008, chegando a ter edições com mais de 500 mil exemplares. O sucesso das histórias com os personagens adolescentes foi tão grande que hoje, o escritor afirma que essa é uma das revistas mais vendidas do mundo nesse estilo.
Sobre escrever para os jovens e adolescentes, Mauricio diz que não é tão diferente de escrever para os mais novos. “No fundo crescemos, mas a criança que vivemos sempre está lá dentro de nós. A diferença é que alguns temas podem ser mais bem desenvolvidos diretamente para o jovem leitor. Para isso, estamos em contato direto com nossos leitores através das redes sociais”.
O que também fez os adultos e jovens leitores voltarem ao mundo de diversão criado pelo empresário, foi o filme live-action da turminha, produzido pelo Mauricio de Sousa Produções em parceria com a Paris Filmes e Downtown Filmes. O longa “Laços” foi lançado em 2019 e fez Mauricio se emocionar no lançamento, além de levar mais de 2 milhões de espectadores para os cinemas.
O bom resultado das bilheterias resultou em um segundo filme, o “Lições”, gravado inteiramente em Minas Gerais e com previsão de estreia para dezembro de 2021. “Além das produtoras, tivemos um diretor que se envolveu muito no processo, que é o Daniel Rezende. Até na escolha dos atores mirins que representam a turminha, quando nos mostraram os escolhidos, logo vimos uma sintonia total deles. Isso se solidifica no segundo filme que estará nos cinemas”, afirma.
Além dos quadrinhos, filmes e merchandising da marca, a Turma da Mônica também conta com projetos sociais, além de ser embaixadora do Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância) e defender sempre os direitos das crianças e adolescentes. Há campanhas em combate à Covid-19 e ações de educação ambiental, além do conhecido “Donas da Rua”, que contribui para que os direitos das mulheres sejam respeitados. Esse projeto é conduzido por Mônica Sousa, a filha de Mauricio que inspirou a personagem principal dos quadrinhos.
Fora do Bairro do Limoeiro, o escritor diz que é muito apegado à família e que todos moram perto um do outro para se visitarem sempre, mas ele confessa que nunca consegue se desconectar totalmente do trabalho. “No fim de semana nos reunimos em meu sítio no interior. Na verdade, nunca estou fora do mundo da Turma da Mônica porque vivo isso intensamente. Para mim, trabalhar com o que amo é um lazer”, afirma o empresário com muita alegria.
Com mais de 10 bilhões de visualizações no exterior com o Mônica Toy e tendo acabado de lançar uma coleção do Horácio com a editora Pipoca & Nanquim, Mauricio garante que ainda há muito pela frente. “Não paramos de ter novos projetos porque nossos fãs adoram”, diz o escritor. Ele revelou à Revista Soberana que a próxima graphic MSP a ser lançada será a “Franjinha – Contato”, de Vitor Cafaggi, em outubro. Logo depois teremos “Piteco”, de Eduardo Ferigato, lançada em dezembro, e “Magali – Tempero”, de Lu Cafaggi, em 2022. O cartunista contou também que o diretor Pedro Vasconcelos está fazendo a pré-produção de um filme biográfico da vida dele, que será filmado em 2022.
Darah Gomes I Redação