Militarização em resposta a protestos imigratórios acirra tensão entre governo federal e estados nos EUA

 

Governador da Califórnia classifica envio de tropas como “assalto à democracia”; medida repercute nacionalmente e reacende debate sobre limites do poder federal

A recente decisão do governo dos Estados Unidos de mobilizar tropas federais para conter protestos em Los Angeles gerou forte reação por parte de autoridades estaduais e ampliou a tensão política entre o presidente Donald Trump e governadores democratas. A medida foi tomada após uma série de manifestações provocadas por operações do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas) que resultaram em centenas de prisões de imigrantes.

Segundo publicação do The Guardian, o presidente Trump ordenou o envio de cerca de quatro mil membros da Guarda Nacional e setecentos fuzileiros navais à Califórnia. O objetivo, segundo o governo federal, seria garantir a segurança de propriedades federais e evitar o agravamento dos protestos, que se intensificaram em diversos bairros de Los Angeles após as ações do ICE.

A decisão, no entanto, foi imediatamente contestada pelo governador da Califórnia, Gavin Newsom. Em declarações à imprensa reproduzidas pelo The Guardian, Newsom classificou a medida como um “assalto à democracia” e afirmou que o envio de tropas sem a autorização do estado representa uma violação da soberania local. O governador também acionou a Justiça na tentativa de impedir a permanência dos militares em território californiano.

O impasse reacendeu um antigo debate nos Estados Unidos sobre os limites do poder federal frente à autonomia dos estados, especialmente em momentos de crise civil. Especialistas em direito constitucional citados pelo The Guardian alertam que o uso da chamada Lei de Insurreição — que permite o envio de tropas em casos excepcionais — pode abrir precedentes perigosos para a democracia, principalmente quando aplicado de forma unilateral pelo Executivo.

Enquanto isso, os protestos que começaram em Los Angeles se espalharam por outras cidades norte-americanas, como Nova York, San Francisco, Seattle e Houston. Em comum, os manifestantes pedem o fim das políticas de deportação em massa, maior proteção aos direitos dos imigrantes e o recuo da militarização nas ruas. Movimentos organizados, como o “From LA to Chicago: ICE Out!”, ganharam força nas redes sociais e convocam atos nacionais ao longo da semana.

A presença de tropas federais nas ruas, por sua vez, tem elevado o clima de tensão, com episódios de confrontos registrados em diversas regiões. A postura do presidente Trump vem sendo criticada por lideranças do Partido Democrata, que acusam o governo de agir com autoritarismo e de tentar silenciar protestos legítimos por meio da força.

Segundo o The Guardian, a Suprema Corte dos Estados Unidos pode ser acionada para avaliar a legalidade da ação federal, caso a Justiça comum não imponha limites à atuação militar. Enquanto isso, a população segue mobilizada e o país se vê novamente dividido entre dois modelos de governança: o centralizador, promovido pelo governo federal, e o descentralizado, defendido por estados que buscam autonomia para gerir questões sensíveis como imigração, segurança e direitos civis.

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