Especialista tira dúvidas sobre tipos, formas de contágio, prevenção e tratamento das hepatites virais.
Apesar do compromisso de reduzir em até 90% os casos da doença e em 65% as mortes associadas a ela até 2030, conforme o Plano Estratégico Global das Hepatites Virais, o Brasil ainda registra anualmente uma quantidade relevante de casos de hepatites. De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2021, no período de 1999 a 2020, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 689.933 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 168.579 (24,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 254.389 (36,9%) aos de hepatite B, 262.815 (38,1%) aos de hepatite C e 4.150 (0,6%) aos de hepatite D. Sendo os tipos B e C as principais causas de doença hepática crônica, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer).
Existem diversos tipos de hepatites, como autoimune, medicamentosa, química, mas a grande preocupação em se tratando de saúde coletiva, são as hepatites virais clássicas. O tipo A é mais observado na infância, por ter fácil propagação em escolas, creches, sendo necessário prezar pelas condições sanitárias adequadas, pois pode ser contraída por meio de ingestão de água e alimentos. Na maioria dos casos, a cura é espontânea, sem tendência a ficar crônica. O tipo B pode ser transmitido de mãe para filho ou por via sexual, pois é ligada ao contato com secreções corporais (sêmen, saliva e sangue), ou por procedimentos com perfurações (odontológico, tatuagem, piercing, lâmina de barbear, alicates de unha, seringas compartilhadas, etc.). A transmissão é possível durante todo período do vírus no organismo, às vezes por vários anos. E a doença pode evoluir para uma cirrose ou câncer no fígado. Já o tipo C é pouco reconhecido na fase aguda, com grande número de pacientes evoluindo para fase crônica e cirrose, sendo causa frequente de demanda por transplante e tem formas de contágio semelhante ao do tipo B.
Diante desse cenário, o gastroenterologista do Complexo Hospitalar Santa Genoveva, Dr. Nestor Barbosa de Andrade, ressalta que a prevenção ainda é a melhor atitude para combater o vírus. “A hepatite do tipo A combatemos com o cuidado com lavagem das mãos, muita higiene após uso do sanitário e no manuseio dos alimentos, evitar contato próximo entre pessoas da casa ou de instituições fechadas, não compartilhar objetos como lâmina de barbear, escova de dentes, etc. Já os tipos B e C necessitam de cuidado com procedimentos como tatuagem, tratamento odontológico, uso de piercing, e, também, os hábitos ligados ao uso de drogas ilícitas sejam injetados (compartilhando seringas), sejam de aspiração (compartilhando cachimbo). E é importantíssimo ressaltar o cuidado com sexo seguro com o uso de preservativo em todas as relações.”
As vacinas são as grandes aliadas na prevenção das hepatites A e B. “Em todo mundo tivemos diminuição da ocorrência com uso adequado, diminuindo a cadeia de transmissão. A prática terá impacto muito positivo na vida da comunidade e de cada indivíduo protegido, diminuindo a transmissão e ocorrência de novos casos, assim como reduzindo o surgimento de casos e suas possíveis evoluções para formas crônicas com cirrose, com complicações de insuficiência hepática, demanda por transplante e ocorrência do câncer hepatocelular”, explica o doutor Nestor.
Apesar de graves, as hepatites virais têm tratamento. O Dr. Nestor esclarece que os tipos B e C são geralmente tratados com medicamentos antivirais. “O tipo B exige muitas vezes tratamento continuado, mas os novos medicamentos disponíveis já controlam a doença e diminuem as complicações. O tipo C teve verdadeira revolução, com variedade de medicamentos muito efetivos e grande redução do tempo de tratamento e maior efetividade e possibilidade de cura. Espera-se que em 10 a 15 anos possa haver erradicação desta doença”, diz.
Entre as dificuldades enfrentadas no combate às hepatites no Brasil, o Dr. Nestor aponta a dificuldade de diagnóstico de muitos pacientes com o problema crônico e nada sentem. Por isso, é importante a política de busca ativa dos pacientes realizando exames em locais de cuidados primários, consultas ginecológicas, pré-natal e em pacientes com outras doenças fragilizadoras e crônicas.
Para quem já contraiu a doença, é importante seguir a orientação do tratamento e realizar exames de controles periódicos. “A chance da cura da Hepatite C é uma realidade do dia de hoje, e seu tratamento está à disposição de todos os brasileiros. O controle e boa evolução estável da hepatite B também é uma realidade, e sua prevenção com a vacina uma grande conquista”, tranquiliza o médico.